Temos hoje a obrigatoriedade do ensino de história e cultura indígenas nas escolas de educação básica de todo o Brasil, conforme determina a lei 11.645, sancionada pelo presidente Lula no dia 10 de março do ano em curso, ampliando as determinações da lei 10.639/2003, que instituiu a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana, contribuindo dessa forma para a discussão deste tema, possibilitando a ruptura do modelo eurocêntrico no ensino e a construção de uma educação multicultural na escola brasileira. Historicamente os povos indígenas têm sido objeto de múltiplas imagens e conceituações por parte dos não-índios e, em consequência, dos próprios índios, marcadas profundamente por preconceitos e ignorância. Desde a chegada dos portugueses e outros europeus que por aqui se instalaram, os habitantes nativos foram alvo de diferentes percepções e julgamentos quanto às características, aos comportamentos, às capacidades e à natureza biológica e espiritual que lhes são próprias. Questões relevantes na medida em que estão francamente conectadas ao modo como a cultura ocidental construiu sob a sombra dos séculos, determinadas ideias predominantes a respeito de si mesma e dos demais povos no mundo, estabelecendo um contraponto entre sociedades arcaicas e civilizações modernas, amparadas por critérios de racionalidade e verdade. São igualmente válidos em um plano social e político atualmente, quando a comunicação e o convívio de povos, culturas, nações e grupos sociais diferentes entre si se dão em grau, extensão e intensidade nunca antes experimentadas. Neste sentido, sob a temática História do Tempo Presente, o texto que ora apresentar-se-á visa, sobretudo, compartilhar experiência engendrada no âmbito da rede pública de ensino onde pudemos discutir a realidade dos povos indígenas, suas lutas e invisibilidade sócio-cultural e política, bem como promover um espaço de dialogo entre dois universos culturais distintos, possibilitando a construção de um conhecimento mais próximo da realidade indígena e dos estudos atuais sobre ela, valorizando o diálogo entre as diferenças. De forma tal, este texto é o registro comentado de uma vereda que se põe em aberto no contexto do ensino de história e da temática indígena; vereda que se propõe a tarefa de discutir visões estereotipadas, equívocos e os preconceitos comumente existentes sobre os “índios”, indicando subsídios para o estudo da temática indígena, na perspectiva do reconhecimento da diversidade étnica em nosso país. Consoante com o exposto, entendemos que o estudo dessas questões pode iluminar problemáticas do tempo presente como a reivindicação – por parte dos descendentes indígenas – de reservas indígenas em áreas limítrofes.