A Educação Infantil vem buscando, há décadas, se consolidar enquanto modalidade de ensino com especificidades próprias. Com a pandemia do Covid-19, teve seu currículo brutalmente ameaçado pela proposta de trabalho remoto que colocou em cheque as interações e brincadeiras que estão no cerne da prática pedagógica. Além disso, o setor educacional no Brasil, de modo geral, vem sofrendo retrocessos nas políticas públicas do atual governo que desvaloriza a educação e seus profissionais evidenciando cada vez mais as desigualdades sociais. Nesse cenário caótico da política e da saúde, os profissionais da educação precisaram buscar alternativas que garantissem o desenvolvimento dos estudantes de forma inovadora. O artigo relata a experiência desenvolvida em um Centro Municipal de Educação Infantil do Recife, onde as educadoras refletem sobre a produção e utilização de Cadernos Temáticos como uma alternativa de trabalho durante a pandemia. No processo, se considerou a repercussão deste recurso e as respostas das crianças, frente às propostas ocorridas durante o isolamento social. As tensões que perpassam a prática docente se sustentam nas ideias de Batthyány (2020), Campos (2020), Corsaro (2011), Maudonnet (2019), Dewey (1979), Morin (2002) entre outros. Esse instrumento didático dialogou com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), com a Política de Ensino da Rede Municipal do Recife e com o Projeto Político Pedagógico da instituição. O debate evoca o ato político (FREIRE, 1993) para ouvir as vozes das crianças num contexto pandêmico e em direção ao contraditório, lutar pelo respeito à infância na sua integralidade. A proposta transcendeu “as paredes do CMEI” inspirando outras instituições e corroborou para leitura do mundo e intervenção nele através da produção de cultura, evocando a liberdade de experiência, pensamento e contestação, desenvolvendo na criança o senso crítico e percepção de si, do outro e do mundo (FREIRE, 1967).