O presente trabalho analisa o fenômeno do homeschooling no Brasil, seu processo de legitimação no marco da educação nacional, bem como suas consequências na retração de políticas públicas educacionais. Com base na Teoria Crítica da Sociedade, a investigação da educação domiciliar, aprovada recentemente pelo Congresso Nacional, passa pela análise da hegemonia de grupos conservadores, de viés reacionário, que atualmente estão no controle da educação brasileira. Resultados preliminares do estudo apontam para uma concepção e práxis político-pedagógica de uma educação sitiada no interior burguês, cujas consequências a médio e longo prazo desembocam na formação narcísica e solipsista de crianças e jovens. Tal processo agrava ainda mais o quadro de semiformação instituído pela modernidade, analisado por Theodoro Adorno e Walter Benjamin com relação à decadência da narrativa, da experiência [Erfahrung] e da comunicabilidade, cedendo lugar às trivialidades das vivências [Erlebnis] cada vez mais solitárias e inviabilizando uma educação libertadora e emancipatória. Concebe-se, assim, o homeschooling como um fenômeno derivado do processo cada vez mais acentuado de interiorização da sociedade burguesa , que retrai ao plano privado uma das mais importantes conquistas das revoluções liberais: a escola pública universal moderna. Tal fenômeno aprofunda a crise da educação brasileira, asfixiada por reformas neoliberais que, nas últimas décadas, têm provocado retração nos investimentos públicos e precarizado, ainda mais, suas condições de ampliação e qualificação.