Artigo Anais I CONEDU

ANAIS de Evento

ISSN: 2358-8829

NOS EMBALOS DO FINAL DE SEMANA: A SOCIABILIDADE HOMOSSEXUAL EM SÃO PAULO NOS ANOS 1990

Palavra-chaves: ANOS 90, SOCIABILIDADE GAY, SUBJETIVAÇÃO Comunicação Oral (CO) GÊNERO, SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO
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      Este texto quer fazer uma discussão de aspectos da sociabilidade de homossexuais na cidade de São Paulo durante a década de 1990. Para isso e necessário situar a emergência histórica de lugares destinados a este público porque eles estão inseridos num movimento que começou um pouco antes no clima de “abertura lenta e gradual” vivido pelo Regime Militar brasileiro no fim dos anos 1990. Foi ali, junto ao jornal Lampião da Esquina e aos militantes de grupos homossexuais que surgiam em todo o país, que se fez sentir um ambiente mais propícios para que pessoas que se relacionam afetiva e sexualmente com outras do mesmo sexo pudessem disfrutar dos seus afetos. Porém, os anos 1980 assistiu a explosão da Aids no mundo homossexual, não apenas os obrigando a policiar os seus afetos, bem como a conviver com uma miríade discursiva que os condenava, inclusive, se referindo a Aids como um “câncer gay”. Nesse sentido, os anos 1990 representa para os homossexuais a sobrevivência a um curto intervalo de tempo caracterizado por certa liberalização e muita repressão. Mas é justamente na década de 1990, veremos ao longo do texto, que emergiu um conjunto de fatores que contribuíram na formação de novas subjetividades gays. Surgiram eventos, boates, mais livros traduzidos sobre o assunto, mais espaço em grandes jornais nacionais e mais destaque nas novelas. São esses aspectos que permitem uma leitura das vidas de homossexuais naquela época. E para isso recorremos as noções dos processos de subjetivação conforme encontramos em Foucault e em Deleuze.Palavras-chave: Anos 90 – Sociabilidade gay – Subjetividades\r\n
      \r\n
      ARTIGO:\r\n
      \r\n
           Os anos 1990 ainda conta na historiografia com poucos estudos de análise. Desse modo, situar quaisquer temáticas nesse recorte temporal significa trilhar caminho pouco visitado. Estar nesse quase ponto de partida é notadamente levar em consideração o pouco diálogo que se estabelece com outros autores, devido a própria lacuna de estudos e se arriscar a fazer provocações que mais do que iluminar um “novo” campo, aprimore a poeira sobre aquela época. \r\n
                  Se falar dos anos 1990 é tarefa embaraçosa para o historiador, profissional cobrado por trabalhar com temporalidades mais distantes, o desafio avança à medida que escolhemos falar de um assunto que se desenvolve ora com preconceitos, ora com a tentativa de compreensão, ou, infelizmente, de tolerância. Eis as homossexualidades. Escolhemos falar de homossexualidades, no plural, para evitar transformar as palavras em entidades, ciente que estamos do seu poder decisivo na construção de realidades sociais. \r\n
                  Cumpre fazer outra ressalva. O texto será aparente curto devido as normas deste Congresso e ao caminho embrionário que traçamos aqui. Nesse sentido, leitor, o que encontrarás aqui é notadamente a tentativa de apresentar alguns aspectos da homossociabilidade homossexual na cidade de São Paulo nos anos 1990. Para isso iremos visitar dois periódicos que circularam nesse período e podem servir com fontes de análise para as sociabilidades homossexuais. Assim vamos trazer um breve apanhado das seguintes publicações: SuiGeneris; G Magazine; Homens; Ok Magazine.\r\n
                 Um dos locais de sociabilidade dos homossexuais eram as festas, boates e saunas. Mas cada uma desses locais enfrentou problemas para atrair os públicos. No caso das Saunas, por exemplo, foi uma dificuldade se restabelecerem na cidade de São Paulo após a explosão da Aids nos anos 1980. No começo dessa década já se diagnosticava os primeiros casos no Brasil. Provavelmente teriam sido brasileiros em visita aos Estados Unidos que contraíram os primeiros casos. A transmissão também se dava com a doação de sangue. Na época o conhecimento da doença era nulo e não se sabia de início das reais possibilidades de transmissão. \r\n
                A Aids foi noticiada pela imprensa da época como o “câncer gay” por causa da crença, comum no momento, de que era um mal que partia dos homossexuais e estavam recebendo um castigo divino dadas as suas preferencias sexuais. Logo de início se percebeu que a doença não era exclusividade dos homossexuais. Porém, conforme destacou o escritor e militante homossexual João Silvério Trevisan (2008), a Aids colaborou para colocar as homossexualidades definitivamente dentro dos lares brasileiros. Mais do que informar sobre o que ocorria se tornou necessário agenciar uma série de medidas e campanhas políticas pretendendo orientar a população a evitar a contaminação. \r\n
                Essa campanha com fins a tratar a Aids foi acompanhada de uma considerável rejeição da sociedade para com os homossexuais nos anos 1980. O movimento homossexual, surgido no final dos anos 1970, precisou minimizar suas conquistas e sua luta por visibilidade. Foi apenas nos anos 1990 que a AIDS passou por um outro momento, vivia-se na prevenção e no tratamento. Em 1991, por exemplo, uma publicação começou a circular no Rio de Janeiro voltado para o público homossexual e tratando especialmente da questão da Aids. Era o jornal Nós, por exemplo que durou até 1995. \r\n
                 Acreditamos que a década de 1990 foi um período que caracterizou a entrada dos homossexuais na vida cotidiana do país porque graças a vários discursos passou a se fabricar novos modelos de homossexuais que iam aparecendo tanto nas novelas da Rede Globo, como foi o caso de A próxima vítima em 1995, quanto em vários outros jornais e revistas cujo alvo era o grande público. Simultaneamente, inaugurava-se em meados dessa década uma editora especializada em organizar e publicar livros voltados para o público homossexual. Daí entendermos que as condições de sociabilidade na cidade de São Paulo, provavelmente, encontravam ambientes diversos para se perpetuar. \r\n
                 Um dos lugares de destaque para encontros e aventuras destinados aos homossexuais foram as saunas que inclusive foi tema de matéria na pequena revista Ok Magazine (que logo depois veio a se chamar Yes Magazine). As saunas geralmente constituem um lugar de liberdade e libertação para as possibilidades que o corpo pode alcançar. Mas ela é também o ambiente de medo de ter algum conhecido passando na rua quando se entra por aquela porta estreita onde muitos transeuntes desconfiam o que seja ou do encontro com algum colega de trabalho lá dentro. Com relação as saunas da cidade de São Paulo uma matéria da revista Ok Magazine informava:\r\n
      \r\n
             "Existem saunas de todos os tipos, das mais populares às mais sofisticadas, das mais limpas e modernas às mais bagaceiras e antiquadas. O sistema é esse: o cliente paga um valor fico pelo “banho”, ou seja, para entrar e desfrutar de todos os ambientes durante o tempo que desejar. Porém, tudo que vem a mais é cobrado, como bebida, comida, serviços de massagistas, salas privês e, na maioria dos casos, camisinha – lá fora, os preservativos são fornecidos gratuitamente, mas aqui ainda são poucas as saunas que dão as camisinhas (...).\r\n
      Engana-se, porém, quem imagina que a clientela das saunas deve ser composta apenas por pessoas ais velhas, decadentes ou sem atrativos físicos. Numa certa sauna de michês em São Paulo, nos dias de maior movimentação (sexta e sábado), há grande concentração de carros de luxo ou mesmo importados no pequeno estacionamento com manobrista. Em outra, essa apenas de clientes, nas tardes de domingo há até espera para conseguir um armário no vestuário, tal a quantidade de rapazes, muitos na faixa dos 22 anos – 30 anos, tomando o seu banho (...)".\r\n
      \r\n
      \r\n
                O relato acima cumpre pelo menos dois papeis: informa sobre as saunas e convida o leitor a pensar na possibilidade de visitá-las. Quando o texto de Denerval Ferraro Júnior descreve o que há na sauna, ele está colaborando para educar o leitor a se desvincular de uma imagem de estereotipia associada a esses espaços por parte da sociedade. Assim o texto pedagogiza o leitor enfocando nos elementos do ambiente e grupos que frequenta. Simultaneamente esclarece que há tipos de saunas com diferentes públicos. \r\n
                 Ficamos sabendo que as saunas eram um espaço atrativo para que homossexuais nos anos 1990 pudessem atribuir novos sentidos ao corpo. Sentidos que os libertasse muitas vezes do vínculo de uma relação amorosa. O corpo se tornava costumeiramente nesses ambientes o espaço do instantâneo, do fugaz, do que uma vez saciado já se vai. Mas também um espaço para fazer amizades, contatos, encontrar possíveis amantes. As saunas naquela década colaboraram sobremaneira nas identidades e jogos de sociabilidade dos homossexuais. \r\n
                  Conforme mostram algumas revistas que circularam na época, a vida homossexual em São Paulo no período aqui abordado era múltipla. Parecia ser o ambiente onde tudo era possível. Especialmente nas noites de quinta, sexta, sábado e domingo se encontrava vários locais para se divertir, fazer amizade, procurar aventuras sexuais.\r\n
                 Nesse contexto as dregqueens ganhavam destaque considerável. Algumas casas noturnas organizavam concursos onde elas podiam mostras suas performances. Mas o sucesso das casas noturnas era tão evidente que se organizavam eventos para premiar esses proprietários. \r\n
               As matérias da curta revista Ok Magazine vieram divulgar como São Paulo era uma cidade atrativa para aventuras e interação social para os homossexuais. Geralmente alguns ambientes voltados para esse público continha dias apropriados para determinados estilos. Por exemplo, algumas das principais saunas eram a Alterosas, Amazonas, Árie’s Men, Caracalas, Champion – que ficava no Largo do Arouche – dentre outras. No caso da sauna Amazonas, alertava-se: “às 2ªs, o famoso encontro dos caminhoneiros; às 6ªs, é a vez dos executivos” .\r\n
                Para aqueles que não gostavam muito de sair e estivesse em busca de brincar com o corpo, havia ainda locadoras especializadas na venda de vídeos gays, foi o caso tanto da Blue Video, na Rua Martins Fontes, cujo anúncio dizia, “revendedora de vídeos gays, com mais de 1.000 títulos, também comercializamos disquetes com imagens de homens nus” . Havia outras como a Frenesi Vídeo, “locadora especializada em vídeos gays, onde é até ‘permitido beijar’”.\r\n
               Vamos percebendo que enquanto as homossexualidades viravam pauta de discussão em novelas e veículos impressos nos anos 1990, ela era também sentida e vivida no cotidiano dos homossexuais, em diversos locais destinados para esses grupos. \r\n
               O que pretendemos nesse breve texto foi apresentar de modo claro e resumido um pouco desses locais de sociabilidade. Esperamos ter cumprido nosso objetivo e, ao mesmo tempo, alertamos o nosso leitor da necessidade e lacuna desses estudos, no recorte aqui abordado, nos diversos campos dos quais se ocupam as ciências humanas. \r\n
                 \r\n
      Anexo:\r\n
      Foto 1 \r\n
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      Referências bibliográficas:\r\n
      FERREIRA, Jorge e REIS, Daniel Aarão. Revolução e democracia (1964...). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.\r\n
      FACCHINI, Regina. Sopa de letrinhas?: Movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 1990. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.\r\n
      FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1989.\r\n
      ¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬GREEN, James. Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São Paulo: Editora UNESP, 2000. \r\n
      OLIVEIRA, Lúcia Lippi. Cultura brasileira nesse fim de século. In.: D’INCAO, Maria Angela (org). O Brasil não é mais aquele... Mudanças sociais após a redemocratização. São Paulo: Cortez, 2001.
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                  Se falar dos anos 1990 é tarefa embaraçosa para o historiador, profissional cobrado por trabalhar com temporalidades mais distantes, o desafio avança à medida que escolhemos falar de um assunto que se desenvolve ora com preconceitos, ora com a tentativa de compreensão, ou, infelizmente, de tolerância. Eis as homossexualidades. Escolhemos falar de homossexualidades, no plural, para evitar transformar as palavras em entidades, ciente que estamos do seu poder decisivo na construção de realidades sociais. \r\n
                  Cumpre fazer outra ressalva. O texto será aparente curto devido as normas deste Congresso e ao caminho embrionário que traçamos aqui. Nesse sentido, leitor, o que encontrarás aqui é notadamente a tentativa de apresentar alguns aspectos da homossociabilidade homossexual na cidade de São Paulo nos anos 1990. Para isso iremos visitar dois periódicos que circularam nesse período e podem servir com fontes de análise para as sociabilidades homossexuais. Assim vamos trazer um breve apanhado das seguintes publicações: SuiGeneris; G Magazine; Homens; Ok Magazine.\r\n
                 Um dos locais de sociabilidade dos homossexuais eram as festas, boates e saunas. Mas cada uma desses locais enfrentou problemas para atrair os públicos. No caso das Saunas, por exemplo, foi uma dificuldade se restabelecerem na cidade de São Paulo após a explosão da Aids nos anos 1980. No começo dessa década já se diagnosticava os primeiros casos no Brasil. Provavelmente teriam sido brasileiros em visita aos Estados Unidos que contraíram os primeiros casos. A transmissão também se dava com a doação de sangue. Na época o conhecimento da doença era nulo e não se sabia de início das reais possibilidades de transmissão. \r\n
                A Aids foi noticiada pela imprensa da época como o “câncer gay” por causa da crença, comum no momento, de que era um mal que partia dos homossexuais e estavam recebendo um castigo divino dadas as suas preferencias sexuais. Logo de início se percebeu que a doença não era exclusividade dos homossexuais. Porém, conforme destacou o escritor e militante homossexual João Silvério Trevisan (2008), a Aids colaborou para colocar as homossexualidades definitivamente dentro dos lares brasileiros. Mais do que informar sobre o que ocorria se tornou necessário agenciar uma série de medidas e campanhas políticas pretendendo orientar a população a evitar a contaminação. \r\n
                Essa campanha com fins a tratar a Aids foi acompanhada de uma considerável rejeição da sociedade para com os homossexuais nos anos 1980. O movimento homossexual, surgido no final dos anos 1970, precisou minimizar suas conquistas e sua luta por visibilidade. Foi apenas nos anos 1990 que a AIDS passou por um outro momento, vivia-se na prevenção e no tratamento. Em 1991, por exemplo, uma publicação começou a circular no Rio de Janeiro voltado para o público homossexual e tratando especialmente da questão da Aids. Era o jornal Nós, por exemplo que durou até 1995. \r\n
                 Acreditamos que a década de 1990 foi um período que caracterizou a entrada dos homossexuais na vida cotidiana do país porque graças a vários discursos passou a se fabricar novos modelos de homossexuais que iam aparecendo tanto nas novelas da Rede Globo, como foi o caso de A próxima vítima em 1995, quanto em vários outros jornais e revistas cujo alvo era o grande público. Simultaneamente, inaugurava-se em meados dessa década uma editora especializada em organizar e publicar livros voltados para o público homossexual. Daí entendermos que as condições de sociabilidade na cidade de São Paulo, provavelmente, encontravam ambientes diversos para se perpetuar. \r\n
                 Um dos lugares de destaque para encontros e aventuras destinados aos homossexuais foram as saunas que inclusive foi tema de matéria na pequena revista Ok Magazine (que logo depois veio a se chamar Yes Magazine). As saunas geralmente constituem um lugar de liberdade e libertação para as possibilidades que o corpo pode alcançar. Mas ela é também o ambiente de medo de ter algum conhecido passando na rua quando se entra por aquela porta estreita onde muitos transeuntes desconfiam o que seja ou do encontro com algum colega de trabalho lá dentro. Com relação as saunas da cidade de São Paulo uma matéria da revista Ok Magazine informava:\r\n
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             "Existem saunas de todos os tipos, das mais populares às mais sofisticadas, das mais limpas e modernas às mais bagaceiras e antiquadas. O sistema é esse: o cliente paga um valor fico pelo “banho”, ou seja, para entrar e desfrutar de todos os ambientes durante o tempo que desejar. Porém, tudo que vem a mais é cobrado, como bebida, comida, serviços de massagistas, salas privês e, na maioria dos casos, camisinha – lá fora, os preservativos são fornecidos gratuitamente, mas aqui ainda são poucas as saunas que dão as camisinhas (...).\r\n
      Engana-se, porém, quem imagina que a clientela das saunas deve ser composta apenas por pessoas ais velhas, decadentes ou sem atrativos físicos. Numa certa sauna de michês em São Paulo, nos dias de maior movimentação (sexta e sábado), há grande concentração de carros de luxo ou mesmo importados no pequeno estacionamento com manobrista. Em outra, essa apenas de clientes, nas tardes de domingo há até espera para conseguir um armário no vestuário, tal a quantidade de rapazes, muitos na faixa dos 22 anos – 30 anos, tomando o seu banho (...)".\r\n
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                O relato acima cumpre pelo menos dois papeis: informa sobre as saunas e convida o leitor a pensar na possibilidade de visitá-las. Quando o texto de Denerval Ferraro Júnior descreve o que há na sauna, ele está colaborando para educar o leitor a se desvincular de uma imagem de estereotipia associada a esses espaços por parte da sociedade. Assim o texto pedagogiza o leitor enfocando nos elementos do ambiente e grupos que frequenta. Simultaneamente esclarece que há tipos de saunas com diferentes públicos. \r\n
                 Ficamos sabendo que as saunas eram um espaço atrativo para que homossexuais nos anos 1990 pudessem atribuir novos sentidos ao corpo. Sentidos que os libertasse muitas vezes do vínculo de uma relação amorosa. O corpo se tornava costumeiramente nesses ambientes o espaço do instantâneo, do fugaz, do que uma vez saciado já se vai. Mas também um espaço para fazer amizades, contatos, encontrar possíveis amantes. As saunas naquela década colaboraram sobremaneira nas identidades e jogos de sociabilidade dos homossexuais. \r\n
                  Conforme mostram algumas revistas que circularam na época, a vida homossexual em São Paulo no período aqui abordado era múltipla. Parecia ser o ambiente onde tudo era possível. Especialmente nas noites de quinta, sexta, sábado e domingo se encontrava vários locais para se divertir, fazer amizade, procurar aventuras sexuais.\r\n
                 Nesse contexto as dregqueens ganhavam destaque considerável. Algumas casas noturnas organizavam concursos onde elas podiam mostras suas performances. Mas o sucesso das casas noturnas era tão evidente que se organizavam eventos para premiar esses proprietários. \r\n
               As matérias da curta revista Ok Magazine vieram divulgar como São Paulo era uma cidade atrativa para aventuras e interação social para os homossexuais. Geralmente alguns ambientes voltados para esse público continha dias apropriados para determinados estilos. Por exemplo, algumas das principais saunas eram a Alterosas, Amazonas, Árie’s Men, Caracalas, Champion – que ficava no Largo do Arouche – dentre outras. No caso da sauna Amazonas, alertava-se: “às 2ªs, o famoso encontro dos caminhoneiros; às 6ªs, é a vez dos executivos” .\r\n
                Para aqueles que não gostavam muito de sair e estivesse em busca de brincar com o corpo, havia ainda locadoras especializadas na venda de vídeos gays, foi o caso tanto da Blue Video, na Rua Martins Fontes, cujo anúncio dizia, “revendedora de vídeos gays, com mais de 1.000 títulos, também comercializamos disquetes com imagens de homens nus” . Havia outras como a Frenesi Vídeo, “locadora especializada em vídeos gays, onde é até ‘permitido beijar’”.\r\n
               Vamos percebendo que enquanto as homossexualidades viravam pauta de discussão em novelas e veículos impressos nos anos 1990, ela era também sentida e vivida no cotidiano dos homossexuais, em diversos locais destinados para esses grupos. \r\n
               O que pretendemos nesse breve texto foi apresentar de modo claro e resumido um pouco desses locais de sociabilidade. Esperamos ter cumprido nosso objetivo e, ao mesmo tempo, alertamos o nosso leitor da necessidade e lacuna desses estudos, no recorte aqui abordado, nos diversos campos dos quais se ocupam as ciências humanas. \r\n
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      Anexo:\r\n
      Foto 1 \r\n
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      Referências bibliográficas:\r\n
      FERREIRA, Jorge e REIS, Daniel Aarão. Revolução e democracia (1964...). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.\r\n
      FACCHINI, Regina. Sopa de letrinhas?: Movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 1990. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.\r\n
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      OLIVEIRA, Lúcia Lippi. Cultura brasileira nesse fim de século. In.: D’INCAO, Maria Angela (org). O Brasil não é mais aquele... Mudanças sociais após a redemocratização. São Paulo: Cortez, 2001.
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Publicado em 18 de setembro de 2014

Resumo

Este texto quer fazer uma discussão de aspectos da sociabilidade de homossexuais na cidade de São Paulo durante a década de 1990. Para isso e necessário situar a emergência histórica de lugares destinados a este público porque eles estão inseridos num movimento que começou um pouco antes no clima de “abertura lenta e gradual” vivido pelo Regime Militar brasileiro no fim dos anos 1990. Foi ali, junto ao jornal Lampião da Esquina e aos militantes de grupos homossexuais que surgiam em todo o país, que se fez sentir um ambiente mais propícios para que pessoas que se relacionam afetiva e sexualmente com outras do mesmo sexo pudessem disfrutar dos seus afetos. Porém, os anos 1980 assistiu a explosão da Aids no mundo homossexual, não apenas os obrigando a policiar os seus afetos, bem como a conviver com uma miríade discursiva que os condenava, inclusive, se referindo a Aids como um “câncer gay”. Nesse sentido, os anos 1990 representa para os homossexuais a sobrevivência a um curto intervalo de tempo caracterizado por certa liberalização e muita repressão. Mas é justamente na década de 1990, veremos ao longo do texto, que emergiu um conjunto de fatores que contribuíram na formação de novas subjetividades gays. Surgiram eventos, boates, mais livros traduzidos sobre o assunto, mais espaço em grandes jornais nacionais e mais destaque nas novelas. São esses aspectos que permitem uma leitura das vidas de homossexuais naquela época. E para isso recorremos as noções dos processos de subjetivação conforme encontramos em Foucault e em Deleuze.Palavras-chave: Anos 90 – Sociabilidade gay – Subjetividades ARTIGO: Os anos 1990 ainda conta na historiografia com poucos estudos de análise. Desse modo, situar quaisquer temáticas nesse recorte temporal significa trilhar caminho pouco visitado. Estar nesse quase ponto de partida é notadamente levar em consideração o pouco diálogo que se estabelece com outros autores, devido a própria lacuna de estudos e se arriscar a fazer provocações que mais do que iluminar um “novo” campo, aprimore a poeira sobre aquela época. Se falar dos anos 1990 é tarefa embaraçosa para o historiador, profissional cobrado por trabalhar com temporalidades mais distantes, o desafio avança à medida que escolhemos falar de um assunto que se desenvolve ora com preconceitos, ora com a tentativa de compreensão, ou, infelizmente, de tolerância. Eis as homossexualidades. Escolhemos falar de homossexualidades, no plural, para evitar transformar as palavras em entidades, ciente que estamos do seu poder decisivo na construção de realidades sociais. Cumpre fazer outra ressalva. O texto será aparente curto devido as normas deste Congresso e ao caminho embrionário que traçamos aqui. Nesse sentido, leitor, o que encontrarás aqui é notadamente a tentativa de apresentar alguns aspectos da homossociabilidade homossexual na cidade de São Paulo nos anos 1990. Para isso iremos visitar dois periódicos que circularam nesse período e podem servir com fontes de análise para as sociabilidades homossexuais. Assim vamos trazer um breve apanhado das seguintes publicações: SuiGeneris; G Magazine; Homens; Ok Magazine. Um dos locais de sociabilidade dos homossexuais eram as festas, boates e saunas. Mas cada uma desses locais enfrentou problemas para atrair os públicos. No caso das Saunas, por exemplo, foi uma dificuldade se restabelecerem na cidade de São Paulo após a explosão da Aids nos anos 1980. No começo dessa década já se diagnosticava os primeiros casos no Brasil. Provavelmente teriam sido brasileiros em visita aos Estados Unidos que contraíram os primeiros casos. A transmissão também se dava com a doação de sangue. Na época o conhecimento da doença era nulo e não se sabia de início das reais possibilidades de transmissão. A Aids foi noticiada pela imprensa da época como o “câncer gay” por causa da crença, comum no momento, de que era um mal que partia dos homossexuais e estavam recebendo um castigo divino dadas as suas preferencias sexuais. Logo de início se percebeu que a doença não era exclusividade dos homossexuais. Porém, conforme destacou o escritor e militante homossexual João Silvério Trevisan (2008), a Aids colaborou para colocar as homossexualidades definitivamente dentro dos lares brasileiros. Mais do que informar sobre o que ocorria se tornou necessário agenciar uma série de medidas e campanhas políticas pretendendo orientar a população a evitar a contaminação. Essa campanha com fins a tratar a Aids foi acompanhada de uma considerável rejeição da sociedade para com os homossexuais nos anos 1980. O movimento homossexual, surgido no final dos anos 1970, precisou minimizar suas conquistas e sua luta por visibilidade. Foi apenas nos anos 1990 que a AIDS passou por um outro momento, vivia-se na prevenção e no tratamento. Em 1991, por exemplo, uma publicação começou a circular no Rio de Janeiro voltado para o público homossexual e tratando especialmente da questão da Aids. Era o jornal Nós, por exemplo que durou até 1995. Acreditamos que a década de 1990 foi um período que caracterizou a entrada dos homossexuais na vida cotidiana do país porque graças a vários discursos passou a se fabricar novos modelos de homossexuais que iam aparecendo tanto nas novelas da Rede Globo, como foi o caso de A próxima vítima em 1995, quanto em vários outros jornais e revistas cujo alvo era o grande público. Simultaneamente, inaugurava-se em meados dessa década uma editora especializada em organizar e publicar livros voltados para o público homossexual. Daí entendermos que as condições de sociabilidade na cidade de São Paulo, provavelmente, encontravam ambientes diversos para se perpetuar. Um dos lugares de destaque para encontros e aventuras destinados aos homossexuais foram as saunas que inclusive foi tema de matéria na pequena revista Ok Magazine (que logo depois veio a se chamar Yes Magazine). As saunas geralmente constituem um lugar de liberdade e libertação para as possibilidades que o corpo pode alcançar. Mas ela é também o ambiente de medo de ter algum conhecido passando na rua quando se entra por aquela porta estreita onde muitos transeuntes desconfiam o que seja ou do encontro com algum colega de trabalho lá dentro. Com relação as saunas da cidade de São Paulo uma matéria da revista Ok Magazine informava: "Existem saunas de todos os tipos, das mais populares às mais sofisticadas, das mais limpas e modernas às mais bagaceiras e antiquadas. O sistema é esse: o cliente paga um valor fico pelo “banho”, ou seja, para entrar e desfrutar de todos os ambientes durante o tempo que desejar. Porém, tudo que vem a mais é cobrado, como bebida, comida, serviços de massagistas, salas privês e, na maioria dos casos, camisinha – lá fora, os preservativos são fornecidos gratuitamente, mas aqui ainda são poucas as saunas que dão as camisinhas (...). Engana-se, porém, quem imagina que a clientela das saunas deve ser composta apenas por pessoas ais velhas, decadentes ou sem atrativos físicos. Numa certa sauna de michês em São Paulo, nos dias de maior movimentação (sexta e sábado), há grande concentração de carros de luxo ou mesmo importados no pequeno estacionamento com manobrista. Em outra, essa apenas de clientes, nas tardes de domingo há até espera para conseguir um armário no vestuário, tal a quantidade de rapazes, muitos na faixa dos 22 anos – 30 anos, tomando o seu banho (...)". O relato acima cumpre pelo menos dois papeis: informa sobre as saunas e convida o leitor a pensar na possibilidade de visitá-las. Quando o texto de Denerval Ferraro Júnior descreve o que há na sauna, ele está colaborando para educar o leitor a se desvincular de uma imagem de estereotipia associada a esses espaços por parte da sociedade. Assim o texto pedagogiza o leitor enfocando nos elementos do ambiente e grupos que frequenta. Simultaneamente esclarece que há tipos de saunas com diferentes públicos. Ficamos sabendo que as saunas eram um espaço atrativo para que homossexuais nos anos 1990 pudessem atribuir novos sentidos ao corpo. Sentidos que os libertasse muitas vezes do vínculo de uma relação amorosa. O corpo se tornava costumeiramente nesses ambientes o espaço do instantâneo, do fugaz, do que uma vez saciado já se vai. Mas também um espaço para fazer amizades, contatos, encontrar possíveis amantes. As saunas naquela década colaboraram sobremaneira nas identidades e jogos de sociabilidade dos homossexuais. Conforme mostram algumas revistas que circularam na época, a vida homossexual em São Paulo no período aqui abordado era múltipla. Parecia ser o ambiente onde tudo era possível. Especialmente nas noites de quinta, sexta, sábado e domingo se encontrava vários locais para se divertir, fazer amizade, procurar aventuras sexuais. Nesse contexto as dregqueens ganhavam destaque considerável. Algumas casas noturnas organizavam concursos onde elas podiam mostras suas performances. Mas o sucesso das casas noturnas era tão evidente que se organizavam eventos para premiar esses proprietários. As matérias da curta revista Ok Magazine vieram divulgar como São Paulo era uma cidade atrativa para aventuras e interação social para os homossexuais. Geralmente alguns ambientes voltados para esse público continha dias apropriados para determinados estilos. Por exemplo, algumas das principais saunas eram a Alterosas, Amazonas, Árie’s Men, Caracalas, Champion – que ficava no Largo do Arouche – dentre outras. No caso da sauna Amazonas, alertava-se: “às 2ªs, o famoso encontro dos caminhoneiros; às 6ªs, é a vez dos executivos” . Para aqueles que não gostavam muito de sair e estivesse em busca de brincar com o corpo, havia ainda locadoras especializadas na venda de vídeos gays, foi o caso tanto da Blue Video, na Rua Martins Fontes, cujo anúncio dizia, “revendedora de vídeos gays, com mais de 1.000 títulos, também comercializamos disquetes com imagens de homens nus” . Havia outras como a Frenesi Vídeo, “locadora especializada em vídeos gays, onde é até ‘permitido beijar’”. Vamos percebendo que enquanto as homossexualidades viravam pauta de discussão em novelas e veículos impressos nos anos 1990, ela era também sentida e vivida no cotidiano dos homossexuais, em diversos locais destinados para esses grupos. O que pretendemos nesse breve texto foi apresentar de modo claro e resumido um pouco desses locais de sociabilidade. Esperamos ter cumprido nosso objetivo e, ao mesmo tempo, alertamos o nosso leitor da necessidade e lacuna desses estudos, no recorte aqui abordado, nos diversos campos dos quais se ocupam as ciências humanas. Anexo: Foto 1 Referências bibliográficas: FERREIRA, Jorge e REIS, Daniel Aarão. Revolução e democracia (1964...). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. FACCHINI, Regina. Sopa de letrinhas?: Movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 1990. Rio de Janeiro: Garamond, 2005. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1989. ¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬GREEN, James. Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São Paulo: Editora UNESP, 2000. OLIVEIRA, Lúcia Lippi. Cultura brasileira nesse fim de século. In.: D’INCAO, Maria Angela (org). O Brasil não é mais aquele... Mudanças sociais após a redemocratização. São Paulo: Cortez, 2001.

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