DUARTE, Angelina Maria Luna Tavares. Da rua para a escola: grafite, discurso e cidadania.. Anais I CONEDU... Campina Grande: Realize Editora, 2014. Disponível em: <http://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/7052>. Acesso em: 27/11/2024 23:22
A esfera educacional, por um longo período, priorizou, em suas práticas pedagógico-curriculares, vertentes da cultura legitimadas pelo cânone, reproduzindo apartheids, por deixar de reconhecer expressões culturais dos jovens oriundos das periferias urbanas, como, por exemplo, as práticas simbólicas do grafite. Havendo vislumbres de antíteses que redimensionam paradigmas antes “inamovíveis”, subsidiamo-nos pela perspectiva intercultural na educação (SACRISTAN, 1995), (JORDÁN, 1996), (SILVA, 1996), (CANDAU, 1997), a fim de direcionar o olhar para o inadiável diálogo entre a escola e as experiências desses atores juvenis, a partir do discurso produzido por eles nos muros da urbe contemporânea. A reflexão que apresentaremos é fruto de duas pesquisas, de abordagem qualitativa, sobre o grafite – no mestrado e no doutorado – nas quais o direcionamento teórico-metodológico se fez a partir da Teoria social do Discurso (Fairclough, 2001). Estabelecemos como objetivos: identificar, a partir das evidências coletadas nas inscrições urbanas dessa cultura de rua (DUARTE, 2006) e das narrativas de história de vida de grafiteiros/as (DUARTE, 2010), aspectos políticos e ideológicos subjacentes à construção discursiva (texto, prática discursiva e prática social) do grafite na cidade de Campina Grande; e refletir sobre a importância da inserção dessas práticas identitárias juvenis, nas atividades educativas, como forma de reconhecimento da cidadania de expressões culturais alternativas. Os resultados apontam, no nível textual, para um discurso de questionamento e de crítica social ao sistema vigente, e sugerem a capacidade diretiva dos grupos de grafite, em prol de uma mudança das condições sociais assimétricas vivenciadas pelos que experienciam a cultura de rua e por um grande número de outros sujeitos sociais. Apontam, também, para valores defendidos por grafiteiros/as, pela representação que fazem do mundo, sinalizam para a constituição ativa da identidade individual do sujeito adolescente e da identidade construída a partir do sentimento de pertença a um grupo, além de contribuirem para a constituição de relações contraditórias entre grafite e sociedade. No nível da prática discursiva, os sentidos refletem processos de luta hegemônica, como possibilidade de legitimação do discurso do grafite, quanto da sua condição cidadã. No nível da prática social, há um processo de retro-alimentação, uma vez que aspectos sócio-históricos influenciam a produção desse discurso, ao passo que o grafite devolve os efeitos dessas relações assimétricas à sociedade, na busca do reconhecimento do seu discurso e de sua identidade. Assim, a partir de tais resultados, defendemos a inserção das expressões do grafite na esfera educativa, já que a inclusão das diversas manifestações da cultura pressupõe considerar a diversidade, inserindo também, nesse debate, aqueles que tiveram ou têm sua voz silenciada e que foram postos à margem dos processos interculturais, sociais e políticos. Essa noção ampliada de cidadania inclui, em seu bojo, direitos culturais do cidadão, valorização das múltiplas tradições e culturas, devendo, também, contribuir para a criação de espaços de expressão e representação de cada uma delas. Essa será, pois, a temática abordada no presente artigo.