REGO, Noelia Rodrigues Pereira. . Anais III CONEDU... Campina Grande: Realize Editora, 2016. Disponível em: <http://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/20735>. Acesso em: 23/12/2024 03:15
É na passagem da sociedade tradicional para a moderna que a dualidade do conceito de juventude tem seu início. No entanto, ela não estava destinada para todos. Para os filhos dos “homens de posse” era destinada a juventude tendo como base a preparação - dada pela escolarização - de sua entrada no mundo econômico e político. Contudo, para os “jovens” menos abastados economicamente a fase de uma pequena infância para a vida adulta se fazia sem escalas, que tinha no trabalho seu expoente principal. Nessa conjuntura que estudar coletivos juvenis pertencentes às camadas populares, principalmente em contexto de favela, é atestar que as trajetórias não são contínuas, sobremodo mambembes e improvisadas na busca pela sobrevivência no mundo do capital. Em uma sociedade sobremodo excludente em que diferenças e desigualdades são fatores determinantes e, muita das vezes, limitadores de trajetórias, não há a possibilidade de se desconsiderar o conflito de classe, pois entendemos ser ele capaz de forjar uma análise crítica sobre as condições de estruturação do status quo gradiente, perversamente assimétrico e desarmônico em que vivemos, que se revela nas precárias condições de trabalho que as juventudes pobres são postas à prova na contemporaneidade. Assim, a questão que norteou nossas investigações etnográficas em nossa pesquisa de mestrado foi compreender como jovens estudantes de EJA - matriculados numa instituição no subúrbio da capital do Rio de Janeiro - Brasil, que compreende, em sua maioria, alunos de duas tradicionais favelas da região - relacionam, em suas distintas trajetórias, educação e trabalho, categorias centrais em suas vidas, procurando perceber as estruturas simbólicas que estão por trás desses elementos na perspectiva do direito e da cidadania. Ao encontro disso, numa sociedade marcada pela cultura do consumir em que o ter se faz o visto de entrada e saída para uma suposta ascensão, tão almejada na sociedade e no grupo em que se vive, o trabalho soaria como uma tentação à educação. Para além do espaço de liberdade e emancipação que teria para esses jovens, além das evidentes necessidades econômicas, o trabalho estaria atrelado aos bens de consumo imediatos. Assim, o que geralmente ocorre é primeiramente a necessidade de “existir”, através de um estereótipo, apropriando-se de símbolos e signos sociais, ou seja, estar “dentro da onda”; para depois sim, se for o caso, pensar em retomar os estudos. Fenômeno que geralmente ocorre numa fase mais madura de ser jovem. Diante do exposto, tomar para si os desafios da contemporaneidade na relação da educação com outras instâncias de socialização (cultura e trabalho), requer um mínimo de lucidez para não cairmos nos frequentes romantismos que se colocam sobre a relação do jovem com o mundo. É buscar ainda nos equívocos dogmáticos do passado - e na prática perversa de uma cultura hegemônica no plano teórico e epistemológico (SANTOS, 2007), pela propagação de um imaginário social pautado na igualdade - as respostas para o presente e as possíveis saídas para o futuro, por meio de uma perspectiva contra-hegemônica e descolonizante.