O aborto tem sido tratado atualmente como um grave problema de saúde pública, sendo premente o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento à prática do aborto inseguro, visto que esta acarreta em graves riscos à saúde da mulher. Objetivou-se analisar as crenças dos profissionais de saúde e dos profissionais de direito sobre suas propostas de enfrentamento ao aborto provocado, seus danos e riscos. Participaram deste estudo 15 profissionais da área de saúde (5 médicos ginecologistas/obstetras, 7 enfermeiros e 3 psicólogos) e 10 da área jurídica (6 promotores de justiça e 4 juízes de direito), os quais responderam a uma entrevista semi-estruturada. Em relação às suas propostas de enfrentamento ao aborto provocado emergiram as seguintes subcategorias: campanhas de educação sexual (38,1%), programas de adoção (28,6%), assistência social e psicológica (26,2%), bem como, para aqueles que são favoráveis à descriminalização do aborto, aborto seguro/redução de riscos e danos (7,1%). Embora a maioria dos participantes tenha propostas para o enfrentamento do aborto provocado contrárias à sua legalização, estes reconhecem que sua ilegalidade traz riscos e danos à saúde da mulher, devendo ser, portanto, tratado como uma questão de saúde pública. Relataram, ainda, a omissão do Estado quanto às políticas públicas para garantir os direitos sexuais e reprodutivos e de assistência à saúde da mulher, a qual se vê completamente desamparada diante de uma gravidez não planejada e indesejada, não tendo a quem recorrer.