O livro Interdisciplinaridade, Trabalho Investigativo e Educação, socializa o engajamento dos autores que, inspirados pelas possibi- lidades e não pelos determinismos do fazer investigativo, desejam com seus relatos, politizar crítica e reflexivamente jovens pesquisadores mundo afora.
No tempo presente, as dimensões sociais de produção do conhe- cimento têm relação direta com a lógica desigual e combinada da sociabilidade do capital. Sendo esta excludente, opressora, mediada pela esfera da mercantilização da vida e das míseras condições de sobrevi- vência. Importa, assim, (re)significar o campo da pesquisa a fim de que a ciência possa realmente destinar-se ao bem comum e a melhoria da vida em sociedade.
Esta coletânea se coaduna, portanto, a uma abordagem investigativa que tem compromisso histórico com a emancipação e a equidade. Nosso desejo é que os textos possam, em alguma dimensão, inspirar outros pes- quisadores, no que se refere às suas práticas acadêmicas e profissionais, e, por conseguinte, de produção do conhecimento à serviço da transfor- mação social.
Pensar e repensar a prática cotidiana profissional/acadêmica numa perspectiva de constante superação deve ser premissa básica de nossos atos, permeando dialeticamente fazeres e saberes. Aplicar tal dinâmica ao trabalho investigativo é uma necessidade ética e conceitual. Neste âmbito é que buscamos justificar as pretensões deste livro.
A coletânea foi dividida em duas partes, a primeira delas intitulada CIÊNCIAS HUMANAS E INTERDISCIPLINARIEDADE, nesta seção os artigos encontram-se alinhados aos princípios expressos pelo documento Capes para a Área Interdisciplinar, abordando temáticas tais como: a relação interdisciplinar e a história oral, filosofia africana, cultura de paz, ensino de ciências e interdisciplinaridade, arquitetura, espiritualidade, escravizados e violência simbólica.
Ao todo, são 11 artigos que retratam o desaguar dos saberes inves- tigativos das ciências humanas no oceano da interdisciplinaridade. Evidenciam traços metodológicos de um fazer investigativo a partir da interseção de experiências, sendo estas campos férteis à apreensão da trajetória humana ao longo dos tempos e em diferentes espaços.
Os artigos da primeira seção se diluem ao movimento de elasticidade epistemológica desencadeada pelas Ciências Humanas. Este processo tem oportunizado, teórica e metodologicamente, o desenvolvimento de estudos e pesquisas de temas e o/ou sujeitos sociais anteriormente exclu- ídos e/ou desprestigiados, um marco importante para tanto é o exercício de uma práxis Interdisciplinar.
Na segunda parte, temos 12 artigos agregados à seção intitulada “A EDUCAÇÃO EM DEBATE”, em que são problematizadas/debatidas ques- tões essenciais à Educação na contemporaneidade, tais como: o legado de Paulo Freire, a escola sem partido, as implicações da BNCC, gênero, direitos humanos e educação inclusiva.
Ao problematizarem/debaterem os aspectos pertinentes às experi- ências com a esfera da Educação, as autoras e autores, oportunizam o desvelar de situações peculiares, específicas de seus contextos, entre- tanto, sem perder de vista à necessária articulação com o todo complexo e contraditório da realidade social. São aspectos densos e de estudo enga- jado de diversas vertentes da investigação sobre os processos educativos em curso.
Finalmente, como pesquisadores, comprometidos com a transforma- ção social e com uma “educação para além do capital” (MÉSZÁROS, 2008), ressaltamos de nossas observações e vivências, com diferentes experiên- cias educacionais, um vínculo implícito e explícito, com a relação entre a teoria gerada em ambientes especulativos, portanto, sujeita à não aplica- bilidade e, a prática vivida no real e adverso espaço educativo, em que a formação enquanto investigadores se faz e refaz e aos poucos vai dando forma e sentido a nossa ação, e, por consequência, germinando o novo.
Eric Hobsbawn (p. 36, 1998), historiador social inglês contemporâneo ressalta, “é inevitável que nos situemos no continuum de nossa própria existência, da família e dos grupos a que pertencemos (...) pois é o que a experiência significa”. Não poderíamos discutir os sentidos e os significa- dos desta coletânea sem estes referenciais. A discussão da ação direta da experiência educativa/investigativa em nossas vidas, na vida de nos- sos familiares, na vida dos demais sujeitos sociais em um permanente entrelaçamento com as experiências concretas do cotidiano, pleiteando uma ruptura com nossas próprias visões de mundo, com nossos “saberes”
e “métodos” e com nós mesmos, esse é um dos princípios das ciências humanas.
Enfim, compreendemos que para melhor refletir acerca do título deste livro “Interdisciplinaridade, Trabalho Investigativo e Educação”, é neces- sário nos alimentarmos de fundamentações como a de E. P. Thompson (1981) ao afirmar que o “ser social” dialoga e determina “a consciência social”, fazendo a “experiência” se impor ao pensamento, à teoria.
A experiência como fio condutor de nosso trabalho investigativo, a vivência coletiva e a troca de saberes como laboratório, são pontos de par- tida, são elementos metodológicos de nossa estratégia na feitura desta obra.
Desejamos à todas e todas uma boa leitura!
Os organizadores.