As revoltas estudantis desenvolvidas em vários países ocidentais, a contracultura, a luta pelos direitos civis de minorias sexuais, os movimentos revolucionários e de independência política nos países americanos, africanos e asiáticos e, sobretudo, as críticas do movimento feminista à estrutura patriarcal e ao sujeito universal, especialmente a partir da década de 1960, abriram caminhos ao surgimento de novos sujeitos sociais e políticos no chamado século sangrento e da emancipação das mulheres, como afirmou o historiador Eric Hobsbawm (1995).
Integrado no intenso debate promovido pelo movimento feminista, o conceito de gênero se disseminou rapidamente entre os campos de produção de conhecimento na segunda metade do século XX. Esse movimento esteve inserido em um momento de alterações substanciais nas Ciências que, por sua vez, não estavam ausentes dos debates políticos que envolviam o contexto de pós-guerras e dos movimentos sociais emergentes em inúmeras partes do mundo. Ao ponderar o sexo como um feito a esclarecer, em vez de fator, por si explicativo, o conceito de gênero corresponde ao propósito de colocar as diferenças entre os sexos na agenda de investigações acadêmicas e nas elaborações de marcadores para as políticas públicas.
Esse quadro foi de extrema importância porque possibilitou retirar o corpo do domínio exclusivo da biologia; com o conceito de gênero elaborado pelas feministas, o corpo sexual teve suas análises também orientadas pelas condições históricas e sociais de produção de cultura e política.
Como sustenta Judith Butler (2003) em Problemas de Gênero, publicação na qual propõe a ideia de “matriz de inteligibilidade”, o primeiro elemento a subjetivar o corpo, a fundar na carne a pessoa, seria o gênero, ou melhor, a marca de gênero, e daí o lugar de destaque que o “ultrassom” ocupa nesse processo ao, como um deus, inaugurar o humano. Esse seria, segundo Butler, o momento fundacional do sujeito e, portanto, de