O presente trabalho tem como objetivo principal discutir as concepções de poder encontradas nas obras de Michel Foucault e Achille Mbembe, vinculando-as com o contexto da Pandemia da Covid-19. O intuito é identificar no contexto pandêmico a ocorrência dessas tecnologias de exercício do poder e analisar os impactos que elas causaram (e causam) socialmente. De um ponto de vista tradicional, o poder é entendido como uma relação existente entre alguém (pessoa/instituição) que manda e alguém (pessoa/instituição) que obedece. Pode-se dizer que o poder implica, nesse sentido, uma relação causal, segundo a qual a vontade de uma pessoa, por exemplo, é imposta sobre a vontade de outra, fazendo com que determinada ação seja realizada, contra a vontade da segunda pessoa. Haveria, nesse caso, a limitação da liberdade de uma pessoa devido ao exercício do poder. Tal perspectiva, embora compatível com situações cotidianas e históricas, não faz justiça à complexidade da concepção filosófica de poder. Foucault sustenta uma concepção de poder que pode ser reduzida a dois conceitos principais, poder disciplinar e biopoder, isto é, um poder que se aplica sobre os corpos individualizados disciplinando-os e um poder que se aplica à vida em sentido coletivo, respectivamente. Mbembe, por sua vez, defende que a visão foucaultiana é insuficiente para dar conta das formas contemporâneas de poder que subjugam a vida ao poder da morte. Segundo ele, o ápice do exercício do poder no mundo contemporâneo, cujo parâmetro primordial é a raça, consiste em provocar a destruição de determinados grupos, os quais supostamente encarnariam inimigos. No contexto da pandemia da Covid-19, podemos identificar uma série de problemas que, sem muito esforço, são associáveis à política da morte. Governantes negacionistas, pouco empáticos e com interesses particulares, fizeram com que o cenário atual fosse cenário de morte para muitas pessoas.