A interação entre a Ciência Geográfica e a Ciência Literária decorre do fato de ambas trazerem a dimensão espacial como centralidade. Tal relação pode ser exemplificada por intermédio da Literatura Regionalista em decorrência dela possibilitar a obtenção das descrições do plano físico e social do Nordeste brasileiro e, consequentemente, podendo atuar como fonte de saberes geográficos que possibilitam a denúncia dos dramas sociais vivenciados pela população nordestina. Dentre tais obras, tem-se o livro "Vidas Secas", escrito pelo romancista alagoano Graciliano Ramos, no qual o leitor é apresentado à trajetória de vida de uma família de retirantes na busca pela sobrevivência em um período de entre secas. Em suma, o presente trabalho tem a intenção de analisar como elementos dos dramas psicológicos e existências das personagens do livro “Vidas Secas" apontam para uma possibilidade de leitura da realidade espacial do Nordeste do início do século XX. Buscando cumprir com tal objetivo proposto, primeiramente foi obtido um aporte teórico acerca das definições e relações entre a Geografia e a Literatura e realizou-se posteriormente uma análise de discurso da obra em si. Dessa forma, foi visto que a obra analisada apresenta, por meio das questões existenciais e psicológicas dos seus personagens, os elementos que constituem a organização do espaço do sertão. Adicionalmente, a descrição do panorama de drama social vivenciado pelos personagens no início do século XX possibilita a denúncia de uma organização espacial marcada por fortes desigualdades e viabiliza para a Ciência Geográfica uma nova fonte de informação para análise desse espaço.