Distopias são o oposto das utopias, utilizadas como conceitos de lugares não ideais e opressivos. Este artigo analisa a obra Questão de Classe de Christina Dalcher, uma narrativa distópica sobre um modelo de ensino que baseado exclusivamente na suposta capacidade do aluno, através de um fator agregador, o número Q, que determina a sua capacidade e o seu futuro. Assim, lançamos mão, de modo seletivo, de um modelo interpretativo (LIRA, 2020) que conjuga a análise literária, na perspectiva da análise textual discursiva, à análise social, considerando uma abordagem descritiva e interpretativa da obra analisada. A distopia apresentada demonstra uma disparidade gritante das realidades de ensino de alunos com números Q’s maiores daqueles com números menores. Realidade que a autora expande, dentro da obra, para um desejo eugenista de controle e esterilização da população não ideal ou inferior, conceito bem parecido ao defendido pelo movimento nazista. As distopias começam a demostrar sua relevância ao realizar uma crítica a sociedade, em especial aos conceitos e pensamentos elitistas e de segregação social. Assim, as obras distópicas destacam-se como ferramentas de fomento ao debate e a discussão, em especial em cenários sócio-políticos controversos, com muitos pensamentos elitistas, como é o caso do cenário nacional. Por fim, as obras distópicas podem e devem ser utilizadas no meio educacional como ferramenta de fomento e incentivo ao debate e pensamento crítico pois, além de demonstrar possíveis realidades perigosas para o desenvolvimento social, podem relatar e apresentar aspectos e pontos sociais interessantes e relevantes para o debate.