A LITERATURA INDÍGENA BRASILEIRA CONSTITUI-SE COMO UM DOS FENÔMENOS POLÍTICO-CULTURAL, POIS APRESENTA DIVERSAS TEMÁTICAS E SE INSERE NUMA DINÂMICA AMPLA DE ATIVISMO, DE MILITÂNCIA E DE ENGAJAMENTO DAS MINORIAS, AS QUAIS FORAM HISTORICAMENTE MARGINALIZADAS E IGNORADAS PELA SOCIEDADE. NESSA LINHA DE PENSAMENTO, DESTACAMOS, EM CONSONÂNCIA COM ANTÔNIO CÂNDIDO, QUE A LITERATURA TEM “A CAPACIDADE (...) DE CONFIRMAR A HUMANIDADE DO HOMEM”, TENDO EM VISTA ARQUÉTIPOS DE EMPATIA E DE RECONHECIMENTO VALORATIVO DO OUTRO, NO QUE DIZ RESPEITO ÀS DIFERENÇAS INTRÍNSECAS À CULTURA, À REGIÃO, ÀS ESCOLHAS REFERENTES A QUAISQUER ÂMBITO DA VIDA, CONSIDERANDO, AINDA, ESSA CONDUTA DE HUMANIDADE DO SER, É POSSÍVEL ASSUMIR O PROTAGONISMO PÚBLICO, POLÍTICO E CULTURAL COMO ELEMENTOS ESSENCIAIS NA REAFIRMAÇÃO DE GRUPOS-COMUNIDADE COM SUAS ESPECIFICIDADES, SEM FOCALIZAR EM PADRÕES HIERÁRQUICOS SEGREGRANTES. ASSIM, PARTINDO DE UMA ABORDAGEM TEXTUAL-INTERATIVA E DAS CONCEPÇÕES DE LITERATURA ABORDADAS POR ANTÔNIO CANDIDO, OBJETIVAMOS ANALISAR E DISCUTIR O DIÁLOGO ENTRE AS IMAGENS MÍTICAS AMAZONENSES E SUA REELABORAÇÃO PELAS VOZES DO NARRADOR NA OBRA ÇAÍÇU ÌNDÉ: O PRIMEIRO GRANDE AMOR DO MUNDO, DE RONÍ WASIRY GUARÁ. A LITERATURA INDÍGENA, TRADICIONALMENTE, VINCULADA À MODALIDADE ORAL DA LÍNGUA, VEM GANHANDO ESPAÇO NO CONTEXTO EDUCACIONAL, NA ESCRITA, POR MEIO DA APARIÇÃO DE NOVOS ESCRITORES QUE TRAZEM NO ESTILO AS NUANCES DE DIVERSAS ETNIAS QUE, DOTADOS DE UMA SINGULARIDADE EXPRESSIVA, TEMATIZAM HISTÓRIAS, MITOS E VIVÊNCIAS DE SEUS POVOS E ANCESTRAIS, ENRIQUECENDO A PRODUÇÃO LITERÁRIA E O NOSSO PATRIMÔNIO SOCIOCULTURAL COM NARRATIVAS DE CUNHO FANTÁSTICO, QUE NOS AJUDAM A VER, A PROJETARA E A SENTIR A VIDA E OS COSTUMES DE FORMA DIFERENTE, AGREGANDO VALOR MEMORÁVEL AO QUE É CONSTRUÍDO DIACRONICAMENTE. DIANTE DO EXPOSTO, BUSCAMOS DEMONSTRAR QUE A IMAGEM DO NARRADOR NA SOCIEDADE RURAL AMAZONENSE, SÓ PODE SER COMPREENDIDA NO CERNE DESSE CONTEXTO SOCIAL MAIS PACATO, COM EFEITO, A ESSE CONTADOR DE HISTÓRIAS É DADO VALOR, QUE, SOB OS OLHOS DA SOCIEDADE QUE OUVE E OBSERVA A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS MÍTICAS E CHEIAS DE MAGIA, REPRESENTA O CONHECIMENTO DOS ANTEPASSADOS, POR INTERMÉDIO DESSE COMPARTILHAMENTO, DIANTE DESSE FATO, ESSE CONTADOR SIMBOLIZA ALGUÉM QUE É CONHECEDOR DOS COSTUMES E DA PALAVRA E, QUE, AO FAZER A TRANSPOSIÇÃO PARA A ESCRITA, PROCURA NÃO SÓ RESPEITAR, COM OS ARRANJOS DE PALAVRAS, ESSES ELEMENTOS REPRESENTATIVOS DE UMA IDENTIDADE CULTURAL, COMO TAMBÉM TENTA DEMONSTRAR, DE FORMA VEROSSÍMIL, AS IMAGENS ILUSTRATIVAS DO ENREDO, DO ESPAÇO, DO TEMPO E DOS PERSONAGENS DA OBRA. DESSA FORMA, VEREMOS A REPRESENTAÇÃO E O CONHECIMENTO HISTÓRICO SOCIAL MATERIALIZADOS POR MEIO DO IMAGÉTICO, CONTRIBUINDO PARA MANUTENÇÃO DA INTERLOCUÇÃO ENTRE O PASSADO E O PRESENTE. FUNDAMENTAR-NOS-EMOS, EM ESTUDOS RELATIVOS AO QUADRO TEÓRICO DE BENCHIMOL (2011); CÂNDIDO (2011, 2013); COELHO (2003); KRüGER (2011); LOUREIRO (2001, 2015), MAINGUENEAU (2005, 2006, 2008A, 2008B, 2012, 2013, 2015, 2020); NOS QUAIS SE VERIFICA QUE A CULTURA LITERÁRIA É ENTENDIDA COMO UM CONJUNTO DE DADOS FACTUAIS, IDENTIFICÁVEIS E QUANTIFICÁVEIS, VISANDO À VALORIZAÇÃO SOCIAL E À IDENTIDADE DO INDIVÍDUO. ASSIM, A PESQUISA DEMANDA ESFORÇO E REFLEXÃO DO PESQUISADOR ACERCA DA SITUAÇÃO DO CONTEXTO SOCIAL, COM ÊNFASE NAS ESTRUTURAS ABSTRATAS DO LITERÁRIO AMAZONENSE COMPOSTAS PELAS IMAGENS. PARA TANTO, PARTE-SE DO ESTUDO DOS PRINCÍPIOS HISTÓRICO E CULTURAL AMAZÔNICOS PRESENTES NA OBRA, BUSCANDO: 1) IDENTIFICAR E RELACIONAR A IMAGEM EXPRESSA PELO NARRADOR NAS ESFERAS SOCIAIS; 2) ASSINALAR ASPECTOS QUE DIZEM RESPEITO À CULTURA LOCAL E QUE APONTAM PARA A APROPRIAÇÃO DA IDENTIDADE AMAZÔNICA; 3) VERIFICAR COMO SE DÁ A RELAÇÃO ENTRE O TEXTO ESCRITO E A IMAGEM ILUSTRADA NA CONSTRUÇÃO DO DISCURSO LITERÁRIO. DITO ISSO, JUSTIFICAMOS QUE A ESCOLHA DO CORPUS DE INTERESSE SE DÁ EM VIRTUDE DE QUE A OBRA PERMITE AO ANALISTA DO DISCURSO OBSERVAR OS EFEITOS DE SENTIDOS MATERIALIZADOS E INTRINCADOS NO DISCURSO LITERÁRIO, ALÉM DE REVELAR QUE A UNIÃO ENTRE DISCURSO E LITERATURA MOSTRA-SE CADA VEZ MAIS EVIDENTE E PROMISSORA, VISTO QUE A ANÁLISE DO DISCURSO FORNECE-NOS FERRAMENTAS TEÓRICO/METODOLÓGICAS EFICIENTES PARA IDENTIFICAR E PARA ANALISAR AS VARIANTES DE DISCURSOS PRESENTES NA OBRA. COMO PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS TEMOS: A) A CONTEXTUALIZAÇÃO DA OBRA EM DESTAQUE, A FIM DE SITUAR O ESPAÇO QUE POSSIBILITA A CRIAÇÃO DA IMAGEM EXPRESSA PELO ENUNCIADOR NO DISCURSO; B) A ANÁLISE DE DIVERSOS EXEMPLOS EXTRAÍDOS DA LITERATURA INDÍGENA, SOBRE OS QUAIS LANÇAREMOS UM OLHAR EM RELAÇÃO À FORMAÇÃO DE IDENTIDADE E ÀS PARTICULARIDADES DOS PERSONAGENS PRESENTES NA OBRA SELECIONADA; C) A CONCLUSÃO. É VÁLIDO DIZER QUE A AD SE CONSTITUI EM UM IMPORTANTE MECANISMO TEÓRICO/METODOLÓGICO PARA A COMPREENSÃO DOS ENUNCIADOS, POSSIBILITANDO ENTENDERMOS COMO A REPRESENTAÇÃO E A APROPRIAÇÃO DO SUJEITO CONTRIBUEM PARA O PROCESSO DE LEGITIMAÇÃO DO DISCURSO HISTÓRICO SOCIAL, EVIDENCIANDO A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DO ENUNCIADOR NO DISCURSO LITERÁRIO. É IMPORTANTE DIZER, AINDA, QUE A LITERATURA TEM EM SI A REPRESENTAÇÃO ESCRITA DA SOCIEDADE, SENDO UM INSTRUMENTO DE MANIFESTAÇÃO SOCIAL. NESSE SENTIDO, ELA ATUA COMO A VOZ DO POVO QUE REPRESENTA, LEVANDO A OUTRAS QUESTÕES COMO: OS ANSEIOS , OS RELATOS DE GUERRA E DE ESPERANÇA, BEM COMO A DIVERSIDADE CULTURAL, SOCIAL, ECONÔMICA E POLÍTICA.