Artigo Anais VII ENALIC

ANAIS de Evento

ISSN: 2526-3234

A POESIA MARGINAL COMO INSTRUMENTO CULTURAL E EDUCATIVO DAS PERIFERIAS DE FORTALEZA - CE

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A poesia marginal abordada nesta proposta tem origem na periferia enquanto expressão cultural e prática educativa não formal, pois suas dimensões buscam alcançar proposições diversificadas, que partem desde sua expressão como já foi pontuada, e de estratégias de denúncia social e subsistência. Por meio dos saraus, esta poesia, que foge da perspectiva erudita/clássica e torna legítimo o saber popular, convoca os jovens ao debate político em torno dos desafios cotidianos impostos a população pobre por uma sociedade antagônica e injusta. Dessa forma, esta pesquisa tem como objetivo central compreender a poesia marginal periférica na sua politicidade, trazendo-a, ainda, como processo mobilizador de juventudes e práticas culturais coletivas. Segundo Laraia (2001, p. 101), "[...] cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender esta dinâmica é importante para atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos." Também é essencial se atentar para o fato que diversos poetas marginais periféricos fazem da arte discursiva e politizada um instrumento de subsistência pessoal ou familiar. Entretanto, cabe observar que tal manifestação sociocultural está inserida em um contexto urbano contraditório que evoca a desigualdade sócio-espacial e socioeconômica. Como nos mostra Carlos (2018, p. 78), a cidade urbana em sua espacialidade concentra um grande número de indivíduos através das relações capitalistas, ou seja, a cidade é envolta pelas contradições sociais, sendo esta questão visível na disposição geográfica dos bairros: ricos e pobres. É importante problematizar a situação histórica e social desses sujeitos que, por vezes, se vêem marginalizados e discriminados. Assim como, é indispensável perceber a poesia marginal periférica como uma forma de resistência que constrói pontes educativas, afetivas e culturais no seio de uma sociedade que em contraposição valoriza o imediatismo das relações humanas em prol da lógica produtiva. De acordo com Dayrell (2003, p. 51), no ritmo das transformações socioculturais brasileiras surgem novas dinâmicas de sociabilidades alicerçadas pela produção cultural. Novos espaços vão sendo abertos pelas juventudes e suas práticas culturais. Esse novo mundo juvenil se fundamenta em culturas mais democráticas que criam laços e constroem sujeitos. Além disso, conforme Diógenes (2006, p. 193) os jovens tendem a assumirem comportamentos e ocuparem espaços simbólicos nas ruas e não apenas em instituições, sendo que nestas últimas as posturas juvenis assumem uma postura que corresponde às normas sociais. Partindo dessa perspectiva, compreendemos a importância sociocultural e educativa de agrupamentos juvenis que surgem de uma realidade social e não institucional. O jovem ou a jovem poeta periférico (a) é entendido (a) aqui a partir "[...] da perspectiva de que as diferentes formas de socialização e inserção dos jovens, a partir de seu universo sociocultural e posição de classe são determinantes para se conhecer de que juventude se está falando." (ALVES, 2017, p. 42). A pesquisa científica se apresenta como qualitativa e utilizou como procedimentos metodológicos uma entrevista semi-estruturada com um poeta marginal e observações simples nos transportes públicos de Fortaleza - CE, nos quais muitos poetas expressam sua poética oral e, às vezes, improvisada e orientada pela recepção dos ouvintes. A entrevista com um dos poetas marginais da cidade nos proporcionou identificar a diferença existente entre a poesia marginal que emergiu no período ditatorial (1964-1965) do Brasil que tinha como intuito produzir literaturas subversivas, porém, dentro da academia e a poesia marginal periférica. Ele diz que "No final dos anos 90 pra começo dos anos 2000, surge em São Paulo a "cooperifa", é um sarau de amplitude nacional [...]". É a partir desse sarau que a poesia marginal se entrelaça ao contexto da periferia em suas emergências sociais, culturais, econômicas e políticas. Ademais, tal prática cultural, por se tratar de trocas simbólicas entre indivíduos e suas experiências pessoais e sociais, transforma as palavras recitadas poeticamente em formas educativas não formais. A poesia marginal neste artigo é expressa como móvel contra as causas de opressão e seus efeitos imediatos: a segregação e a marginalização. Neste sentido, o efeito da marginalização e todo o valor social que ela carrega, pois age de modo a classificar de maneira dominante e negativa uma população, é combatido pelo ato de ressignificar o valor da palavra. Aqui marginal ganha valor qualitativo oposto ao sentido convencional da palavra presente no mundo social que trata de estigmatizar o "rebelde". Assim, partimos da análise de seu valor de pertencimento, identificação e instrumento político de um grupo. Diante dessas considerações, falar de poesia marginal envolve perceber sua dimensão social, cultural, educativa e política como criadora de agremiações juvenis e de reivindicações sociais. Em uma sociedade pautada pelos interesses do capital, bem como fundamentada pelo antagonismo entre as classes sociais, ocupar espaços e promover discursos poéticos que trazem em seu bojo a criatividade e a criticidade é um ato de resistência. Portanto, ela traduz uma nova dinâmica de coletividades juvenis reunidas em prol de uma luta diária contra a opressão, a segregação e a marginalização. Palavras-chave: poesia marginal, cultura periférica, juventudes, cidade. Referências ALVES, Maria Alda de Sousa. Juventudes e ensino médio: transições, trajetórias e projetos de futuro. Curitiba: CRV, 2017. CARLOS, Ana Fani A. A cidade. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2018. DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro: ANPEd, Campinas: Autores Associados, nº 24, set.-dez., p. 40-52, 2003. DIÓGENES, Glória. A arte de fazer Enxame: experiências de ressignificação juvenil na cidade. Política & Sociedade, v. 5, p. 191-221, 2006. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001."
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Publicado em 03 de dezembro de 2018

Resumo

A POESIA MARGINAL COMO INSTRUMENTO CULTURAL E EDUCATIVO DAS PERIFERIAS DE FORTALEZA - CE Evelane Mendonça Lima/evelane.mendonca1@gmail.com/Universidade Estadual do Ceará - UECE Aglailton da Silva Bezerra/aglailtonsb@gmail.com/Universidade Estadual do Ceará - UECE Luiz Felipe de Sousa Gomes/luizfelipeum422@gmail.com/Universidade Estadual do Ceará - UECE Eixo Temático: Educação, diversidade e Inclusão social Agência Financiadora: Programa de Educação Tutorial - PET/MEC Resumo O presente trabalho tem como ponto de partida os poetas marginais da cidade de Fortaleza - CE, os quais (re) criam formas de sociabilidades que interligam as juventudes tendo como referência central sua relação enquanto jovem numa condição de vulnerabilidade social periférica. A poesia marginal abordada nesta proposta tem origem na periferia enquanto expressão cultural e prática educativa não formal, pois suas dimensões buscam alcançar proposições diversificadas, que partem desde sua expressão como já foi pontuada, e de estratégias de denúncia social e subsistência. Por meio dos saraus, esta poesia, que foge da perspectiva erudita/clássica e torna legítimo o saber popular, convoca os jovens ao debate político em torno dos desafios cotidianos impostos a população pobre por uma sociedade antagônica e injusta. Dessa forma, esta pesquisa tem como objetivo central compreender a poesia marginal periférica na sua politicidade, trazendo-a, ainda, como processo mobilizador de juventudes e práticas culturais coletivas. Segundo Laraia (2001, p. 101), "[...] cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender esta dinâmica é importante para atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos." Também é essencial se atentar para o fato que diversos poetas marginais periféricos fazem da arte discursiva e politizada um instrumento de subsistência pessoal ou familiar. Entretanto, cabe observar que tal manifestação sociocultural está inserida em um contexto urbano contraditório que evoca a desigualdade sócio-espacial e socioeconômica. Como nos mostra Carlos (2018, p. 78), a cidade urbana em sua espacialidade concentra um grande número de indivíduos através das relações capitalistas, ou seja, a cidade é envolta pelas contradições sociais, sendo esta questão visível na disposição geográfica dos bairros: ricos e pobres. É importante problematizar a situação histórica e social desses sujeitos que, por vezes, se vêem marginalizados e discriminados. Assim como, é indispensável perceber a poesia marginal periférica como uma forma de resistência que constrói pontes educativas, afetivas e culturais no seio de uma sociedade que em contraposição valoriza o imediatismo das relações humanas em prol da lógica produtiva. De acordo com Dayrell (2003, p. 51), no ritmo das transformações socioculturais brasileiras surgem novas dinâmicas de sociabilidades alicerçadas pela produção cultural. Novos espaços vão sendo abertos pelas juventudes e suas práticas culturais. Esse novo mundo juvenil se fundamenta em culturas mais democráticas que criam laços e constroem sujeitos. Além disso, conforme Diógenes (2006, p. 193) os jovens tendem a assumirem comportamentos e ocuparem espaços simbólicos nas ruas e não apenas em instituições, sendo que nestas últimas as posturas juvenis assumem uma postura que corresponde às normas sociais. Partindo dessa perspectiva, compreendemos a importância sociocultural e educativa de agrupamentos juvenis que surgem de uma realidade social e não institucional. O jovem ou a jovem poeta periférico (a) é entendido (a) aqui a partir "[...] da perspectiva de que as diferentes formas de socialização e inserção dos jovens, a partir de seu universo sociocultural e posição de classe são determinantes para se conhecer de que juventude se está falando." (ALVES, 2017, p. 42). A pesquisa científica se apresenta como qualitativa e utilizou como procedimentos metodológicos uma entrevista semi-estruturada com um poeta marginal e observações simples nos transportes públicos de Fortaleza - CE, nos quais muitos poetas expressam sua poética oral e, às vezes, improvisada e orientada pela recepção dos ouvintes. 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