A presença de animais nos escritos literários vem de muito tempo, de forma que não foram poucos os autores que exploraram a fronteira entre o humano e o não humano. No século XVII, as fábulas alcançaram grande repercussão por refletirem o contexto social, político e econômico da época, uma maneira de denunciar boa parte das desigualdades que afligiram a população naquele período. Nesse gênero, a imagem do animal serviu como modelo para ensinar “boas maneiras” aos homens e, dessa forma, muitas espécies foram utilizadas como eufemismo no jogo de dizer o não dito, usadas como matéria de comédia e escárnio. Nesse contexto, os animais estiveram em segundo plano, servindo apenas como meio para referendar o modelo antropocêntrico, sustentado pelo viés humanista, tratados como figuras neutras, possíveis de serem antropomorfizadas, sobretudo, quando o assunto percorria os âmbitos da moral e do lúdico. Entretanto, nem todos os escritores renegaram o animal enquanto ser dotado de sensibilidade e inteligência. Alguns literatos utilizaram a representação animal para descrever a história natural das espécies, a exemplo de Virginia Woolf, escritora que se ocupou em escrever a biografia do cão Flush, através de uma abordagem minuciosa, conjugando pesquisa, esforço taxonômico e imaginação criadora, na qual o animal pode ser lido e escrito sem o peso da hominização. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é promover a literatura, através de uma abordagem analítico-reflexiva do texto, bem como suscitar uma leitura crítica e sensibilizadora a respeito da relação do homem com as outras espécies, a partir dos “estudos animais”. Como aporte teórico, contamos com os estudos de Candido (1972), Eagleton (2006), Maciel (2016), entre outros.
Palavras-Chave: Estudos Animais; Ficção; Literatura.