BARBOSA, Jaine et al.. A morte na literatura infantil: diferentes abordagens. Anais VII ENLIJE... Campina Grande: Realize Editora, 2018. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/index.php/artigo/visualizar/45261>. Acesso em: 23/11/2024 17:44
A morte nunca foi um tema fácil. Desde a antiguidade, sua presença é motivo de inquietações, principalmente porque a seu respeito há mais lacunas que respostas. Muitos filósofos, estudiosos, cientistas e religiosos, desde muito, elencam considerações sobre ela. A literatura, como parte relevante no universo das artes, não se ausentou disso, mas, através dos tantos caminhos que a linguagem pode propor, representou-a, através dos tempos e das épocas, por meio da história de vida de muitas personagens e de diversas simbologias e imagens, algumas realistas e assustadoras, outras românticas e metafóricas. Dentro desse grupo, por volta do século XVII, uma literatura destinada ao público infantil se fez surgir, vertente esta que, antes de receber tal título, era ouvida por todos, independente da idade que tinham, trazendo cenas de morte nas mais variadas ficcionalizações, sendo algumas delas bastante violentas, mas não proibidas. Apenas depois de consolidada a ideia de uma literatura própria para crianças surgiram os conteúdos tabu e que seriam destinados apenas para o universo adulto. Nesse meio, encontrava-se a morte, que a cada vez foi mais afastada do mundo infantil ou sublimada por metáforas, simbolismos e eufemismos. Na contemporaneidade, a ideia do “politicamente correto” e do “apropriado ou não para crianças” fortaleceu ainda mais a ideia de que não se pode inserir um pequeno leitor no universo dos mortos, embora a morte esteja completamente inserida em sua vida. Foi pensando em discutir acerca do morrer dentro de obras infantis atuais que este trabalho surgiu. Nossa pesquisa, que é de cunho interpretativo e bibliográfico, tem como principal objetivo analisar a representação e o tratamento da morte na obra A árvore das lembranças, de Britta Teckentrup (2014), e no conto “O moço que não queria morrer”, presente na obra Contos de enganar a morte, de Ricardo Azevedo (2003). Em nossa discussão, questionamos se é permitido falar de morte para crianças através da literatura, bem como se é correto privá-las de algo real e tão presente na história humana. Para tanto, faremos um breve percurso histórico acerca da morte na história e na literatura, bem como sua inserção na literatura infantil. Em seguida, analisaremos o lugar da morte nas referidas obras, através de elementos dos textos verbal e visual, evidenciando a forma como ela é abordada e apresentada ao público-alvo. Para tanto, utilizamos, como aporte teórico, os trabalhos de alguns autores que se debruçam sobre a questão, tais como Ariès (2012), Rodrigues (1998), Aguiar (2010), Paiva (2011), Salém (1970), entre outros. A partir de tal percurso metodológico, percebemos o quão relevante é tratar da morte em textos destinados ao leitor infantil, ainda que em caráter alegórico ou inferencial, sem privá-lo de compreender as fases da vida que todo indivíduo deve transpor. A morte continuará fazendo parte da natureza humana: não há como evitá-la, mas há como discutir sobre ela através da imaginação e da fantasia, em uma aproximação leve e com linguagem apropriada.