Os sistemas tradicionais indígenas de saúde têm como princípio integrar indivíduos, famílias e comunidades com o universo que os rodeia (Brasil, 2002). As práticas de cura são produtos da relação particular de cada povo com o mundo espiritual e os seres do ambiente em que vivem, dentre estas o uso de plantas medicinais e fitoterapia, componentes das práticas integrativas e complementares de saúde, para promover saúde, prevenir e tratar agravos (Brasil, 2006). Este trabalho objetiva descrever vivências, percepções e observações no II e III Encontro de Pajés e Detentores de Conhecimentos Tradicionais Indígenas, sua importância para a familiarização dos pesquisadores com o tema e a construção de discussões sobre os saberes tradicionais indígenas e o processo de intermedicalidade. Trata-se de um relato de experiência sobre a vivência e a participação da equipe multidisciplinar de pesquisadores da saúde indígena do Laboratório de Estudos sobre Ação Coletiva e Cultura nestes eventos, realizados em 2015 na Terra Indígena (T.I.) Xukuru do Ororubá e em 2016 na T.I. Pankararu, em Pernambuco. Foram organizados pelo Distrito Sanitário Especial Indígena de Pernambuco e buscaram promover discussões para troca de saberes e experiências entre os sabedores e o diálogo entre o conhecimento tradicional indígena, o conhecimento biomédico e as políticas públicas, contando com a presença de 11 etnias do estado. Vale ressaltar os discursos sobre a importância dos pajés para fortalecer e perpetuar os saberes e tradições dos povos e sobre os segredos da ciência do índio, que não devem ser revelados a todos. Tratou-se também da realização do diálogo entre o conhecimento tradicional indígena e o conhecimento biomédico, algo importante para manter viva a valorização dos saberes tradicionais, das práticas dos pajés, rezadores, parteiras, raizeiros, benzedeiros e produtores de garrafadas que fazem parte da tradição de cada etnia (GRÜNEWALD, 2005). Tais saberes e cosmovisões têm sido negligenciados em função da dominação epistêmica da medicina ocidental. Portanto, participar deste evento resultou numa experiência valorosa, foram percebidos alguns avanços, mas ainda é necessário intensificar o diálogo entre os saberes tradicionais e os saberes ocidentais, o uso racional das plantas medicinais e fitoterápicos e valorização das tradições de cada povo, garantido a sua sobrevivência física e cultural, assim como o princípio da interculturalidade na atenção à saúde dos povos indígenas.