O presente estudo teve por objetivo identificar como o ensino e a experimentação da capoeira se faz presente nas aulas do componente curricular Educação Física (EF) do município de Jaguariúna SP. O método de pesquisa valeu-se de entrevistas estrutradas e semi-estruturadas. A pesquisa foi realizada com professores (as) de EF da rede municipal de educação de Jaguariúna, atuantes nos Centros de Educação Infantil, Escolas Municipais de Educação Infantil e de Ensino Fundamental. Mediante formulário online levantamos quantos e quais professores atuaram com a capoeira em seu plano de ensino. Em seguida, realizamos uma entrevista semiestruturada com os professores que abordaram o tema nas aulas. Apesar de muitos esforços, o reconhecimento da contribuição da população de matriz africana na constituição da cultura brasileira ainda é incipiente. O que se vê, em muitos casos, é a invisibilidade de seus sujeitos nos espaços públicos e a apropriação turística de suas produções culturais. Dentre elas encontra-se a capoeira, prática corporal fruto do encontro decorrente da diáspora africana entre diversas culturas no território brasileiro. Sua importância está consolidada em virtude de seu tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Com a transmissão da história e cultura negra no âmbito escolar garantida pelas Leis 10.639 e 11.645, reforçou-se a importância da capoeira nos currículos escolares. Os dados produzidos foram analisados por meio dos aportes conceituais das teorias de currículo e dos estudos curriculares específicos do campo da Educação Física. Os resultados obtidos indicam que a capoeira se mostrou presente no componente curricular das escolas de Jaguariúna por meio de oficinas e experiências desprovidas de ancoragem social e justificadas pelos saberes hegemônicos. O que notamos foram objetivos desenvolvimentistas e da aptidão física, caracterizando um processo de desmemória e a deslegitimação da cultura afro brasileira, fato que se justifica também por uma formação universitária marcada por valores da cultura branca. A EF escolar proporcionapráticas corporais da cultura hegemônica, e nos momentos que traz outros temas, tende a justifica-los sob o olhar das ciências. Dentro desta perspectiva, a capoeira na escola fragiliza a cultura afro brasileira e fortalece a invisibilidade da luta de seus sujeitos. Os discursos dos(as) professores(as), reforça a crise epistemológica da área e alimenta um currículo constituído pela hibridização das perspectivas pedagógicas. Concluímos a necessidade da construção de um olhar crítico para a formação inicial, que combata tanto a ausência da cultura negra como da despolitização do currículo.