Este artigo tem a pretensão de discutir a importância de se abordar, em sala de aula, as literaturas africanas de língua portuguesa através de uma perspectiva pós-colonial. Essa abordagem terá como público alvo o alunado do ensino médio, especificamente, alunos da EJA. Tal discussão se torna crucial devido ao fato do ensino de literatura ser associado, na maioria das vezes, à transmissão de conhecimento sobre a historiografia e as escolas literárias. Diante desse contexto, percebemos o pouco contato do estudante com o texto literário, gerando, quando esse encontro é possível, uma aversão ou desinteresse. Nesse sentido, defendemos que o ensino de literatura não pode apenas se pautar na seleção de uma série de textos e/ou autores e classificá-los em um determinado período literário, mas sim revelar para o alunado o caráter atemporal, assim como a função simbólica e social da obra literária. Partindo dessa perspectiva, é fundamental que a escola aborde o letramento literário e a função social da literatura como uma possibilidade de ler o mundo, contribuindo, assim, para a formação de leitores ativos e críticos, capazes de compreender o mundo a sua volta a partir de textos literários que propiciam reflexões sobre práticas sociais opressoras. Para tanto, sugerimos uma leitura pós-colonial dos contos As três irmãs e O cesto do livro O fio das missangas do escritor Mia Couto. Nessa leitura, destacamos a subalternização da mulher moçambicana, vítima de uma sociedade patriarcal que subjuga a figura feminina à hegemonia masculina. Tendo em vista isso, essa discussão sobre o texto africano no espaço escolar objetiva problematizar a relação entre opressor e oprimido, concedendo voz àqueles que, historicamente, foram silenciados por todas as formas de opressão, oriundas de uma sociedade patriarcal, pautada na tradição e nos costumes. Desta forma, destacamos a importância de um posicionamento crítico e reflexivo do professor frente às obras literárias em sala de aula, uma vez que este posicionamento terá como objetivo suscitar no aluno-leitor uma postura consciente, ativa e participativa diante do texto literário e da sociedade. Para respaldar esta abordagem da literatura em uma perspectiva pós-colonial, sugerimos como estudiosos fundamentais: APPIAH (1997), BHABHA (2003), BONICCI (2000), HALL (2003), MATA (2007). Além disso, utilizamos como estudiosos da relação entre literatura e ensino: LAJOLO (2001), ZILBERMAN (1991), entre outros.