As medidas socioeducativas são aplicáveis a adolescentes que cometem atos infracionais e são previstas no art. 112, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Correspondem a respostas jurídicas à prática de um delito, embora não visem unicamente à punição, pois primam pela ressocialização através de ações pedagógicas, garantia de acesso à educação, cultura, lazer, profissionalização e convivência comunitária. (TOLEDO et al, 2014). O Programa de Extensão Sol da Primavera/Dptº.Psicologia/UEPB, em parceria com o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), oferece aos adolescentes infratores atividades para ressignificação de experiências, valores pessoais e sociais. Este relato objetiva compartilhar reflexões sobre uma oficina realizada com adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas de liberdade assistida. Participaram, voluntariamente, 08 adolescentes - de ambos os sexos, com idade entre 13 e 20 anos, 02 acadêmicas e 02 professoras do curso de psicologia responsáveis pelas atividades do Programa. Encerrada a dinâmica, os participantes registraram suas impressões em diário de campo que, posteriormente, foram lidas e discutidas coletivamente. As discussões se concentraram em três eixos temáticos e possibilitaram reflexões sobre: “transcurso do tempo”; “relações familiares” e “superação de dificuldades”. Nas discussões sobre o “transcurso do tempo” foi observado que a maioria dos registros teve por tema memórias da infância dos adolescentes. Destaca-se que apenas em um discurso, o passado mais recente foi rememorado, sendo, então, lembrado e discutido o ato infracional. Já as referências ao tempo presente são marcadas por discursos de arrependimento. No tocante à elaboração de projetos de vida, verificou-se dificuldades de verbalização de projetos pessoais, talvez pelo fato do futuro ser percebido como muito distante do presente. No tocante às “reflexões sobre as relações familiares”, são relevantes os discursos sobre a ausência do pai e sobre o desejo de constituição da própria família. São marcantes as referencias aos avôs e tios, lembrados como importantes no cuidado familiar. Embora referidos conflitos familiares, preponderaram percepções das relações familiares como boas e essenciais para a manutenção da vida. Nas “reflexões sobre superação de dificuldades”, foram apontados três fatores que auxiliavam os adolescentes na resolução de problemas: família, escola e atributos pessoais. A família se destaca como ponto de apoio emocional e financeiro por todos os adolescentes. A dinâmica proporcionou uma oportunidade para (re)examinar histórias de vida, uma vez que o ato de lembrar não consiste apenas em reviver, mas refazer e repensar, com imagens e ideias do presente, as experiências do passado, permitindo a reconstrução de projetos futuros desvinculados dos erros cometidos. Embora a família tenha sido citada como fator protetivo para o adolescente, dependendo das relações vivenciadas nesse meio, pode também se constituir como fator de risco. Recomenda-se a realização de oficinas com as famílias dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, objetivando trabalhar o seu papel como importante dispositivo na prevenção de reincidências do ato infracional.