O presente trabalho visa contribuir, a partir do referencial teórico marxista queer, para uma compreensão abrangente da dinâmica de classe, gênero e sexualidade na sociabilidade capitalista e de como as imbricações entre essas formas foram forjadas por séculos de desenvolvimento histórico. Através da compreensão de que a opressão sexual, de gênero, raça e o imperialismo são vitais no funcionamento global capitalista, sustento que cada um dos tipos de opressão podem ser compreendidos como partes integrantes e estruturantes de uma totalidade social. Isto significa dizer que a divisão sexual do trabalho, assim como os demais aspectos, não se tratam de características locais de uma formação social, mas sim centrais no processo de acumulação capitalista – tendo em vista que a dimensão sexual é fundamental para a reprodução da força de trabalho, tanto no aspecto biológico, quanto social. Assim como a economia, a política e a ideologia não podem ser compreendidas enquanto domínios separados, o gênero e a sexualidade devem ser considerados enquanto partes de um todo estruturado a partir desse complexo de relações sociais, isto é, o capitalismo. Tal ferramenta analítica permite vislumbrar não apenas o aspecto funcional da opressão de gênero e sexualidade e o porquê de o valor dessa força de trabalho ser tão desvalorizada – fazendo com que essas populações sejam sistematicamente marginalizadas –, mas também em que medida as identidades queer subvertem a lógica do capital ao ameaçar aspectos específicos dessa relação social, vislumbrando, assim, horizontes emancipatórios.