Neste trabalho, busca-se cotejar os estudos feministas pós-coloniais em seus aportes para a compreensão da dupla opressão da mulher. Através de uma revisão bibliográfica, procura-se destacar apontamentos teóricos desse saber específico que mais se coadunam com o descortinar da marca social duplamente subalterna que ostentam as mulheres nos países periféricos. Sustentando-se nas formulações teóricas de autores e autoras do pós-colonialismo, bem como de feministas asiáticas e latino-americanas, procura-se demonstrar os aportes que os citados campos do pensamento social avultam para uma produção do conhecimento se não emancipatória, graças à desconstrução dos preceitos de “sujeito da história”, ao menos descentrada, isto é, que dê espaço a experiências e saberes outros que não aqueles canonizados pela produção do saber engendrada no Primeiro Mundo. Tal iniciativa demonstra-se relevante para a necessária ruptura no continuum de representações monolíticas empreendidas pelas teóricas feministas europeias e norte-americanas. Embora se reconheça uma recente virada no olhar etnográfico pelas referidas estudiosas, percebe-se que ainda há um vasto campo social a ser percorrido, lacunas históricas de vozes silenciadas que demandam projeção tanto acadêmica quanto política. Mais ainda, percebe-se uma persistente tendência em se adotar conceitos universais de patriarcado e opressão masculina que não levam em consideração as particularidades do contexto latino-americano e seu passado de colonização. Tendo em conta a precarização do conhecimento promovida por tal impensada apropriação de categorias sociais, o presente artigo se propõe a enriquecer os debates feministas a partir do aprofundamento no tema da diferença de gênero nos contextos coloniais.