A finalidade deste artigo é apresentar o desenvolvimento de uma proposta de trabalho escolar voltada à discussão, conscientização e investigação empírica sobre como estudantes das séries finais do ensino fundamental em uma escola pública pessoense, ao estudarem o conteúdo “gênero gramatical”, encaram a possibilidade (ou não) de neutralização de gênero em seu uso diário da língua portuguesa, escrita ou falada. Os estudos a respeito do gênero em português são bem estabelecidos por gramáticos tradicionais e contemporâneos, a maioria com enfoque formal e funcionalista, porém, há que serem consideradas as atuais tentativas de neutralização do gênero, motivadas especialmente pela teoria Queer e validadas cientificamente por estudos linguísticos que se debruçam sobre o tema, emanados de pesquisas acadêmicas de alto nível, resultando na análise dessas alternativas sob seu aspecto morfológico direcionada para a sala de aula. O trabalho pedagógico realizado lançou mão da exposição sobre o gênero gramatical em língua portuguesa, seguida de debates quanto aos argumentos pró e contra a utilização da neutralização por todos os falantes. A partir de pesquisas em recursos digitais online, os estudantes realizaram a reescrita de cartazes, anúncios publicitários, memes e postagens em redes sociais, fazendo as modificações necessárias para adequá-los a alguma das possibilidades de neutralização do gênero apresentadas previamente em aula. Os resultados obtidos mostraram que os discentes conseguem, em poucos casos, empregar a neutralização e analisá-la criticamente, porém, ainda existem dificuldades de aceitação e mesmo rejeição a essas propostas. Assim, entendemos que as mudanças perquiridas pela comunidade LGBTQIA+ na busca pelo respeito mínimo a suas subjetividades no que tange à neutralização do gênero gramatical deverão levar em conta um tempo mais expandido, o atual contexto social e a conscientização educacional, experimentação e uso, até que sejam (ou não) efetivadas na realidade diária das pessoas.