A proposta que ora apresentamos integra a pesquisa em andamento, do Grupo de Estudos Literários Anamneses, intitulada “Memória como herança da negritude nas obras de Conceição Evaristo”, cujos questionamentos centrais objetivam perceber as formas da memória, bem como as suas potencialidades para destacar as contribuições da cultura negra na formação dos elementos culturais brasileiros. Nesse sentido, como forma de responder a tais questionamentos, procuramos analisar a trajetória e as obras da escritora, centrando o foco, neste trabalho, em “Ponciá Vicêncio” (2003), a fim de evidenciar, por meio dessa obra, as relações da personagem com as narrativas de sua representação e de sua autorrepresentação. Desse modo, questões como tomada de consciência acerca de sua herança identitária, bem como a relação entre as temporalidades serão observadas. Atrelar-se-á, ainda, no âmbito do trabalho, a relevância da escrita memorialística, no conjunto da obra de Conceição Evaristo, destacando o conceito, por ela desenvolvido, de escrevivência (2008), como uma escritura atrelada à formação do ser, permeada por possibilidades de revisionamentos do que se diz sobre o negro, inclusive na reinvindicação do direito à produção literária como uma necessidade de se dizer de si, como uma necessidade do direito à fala. Em suas obras, de forma latente, são observadas as representações de personas excluídas, daqueles que, de alguma forma, são socialmente invisibilizados e privados de seus direitos, de modo que, em nossas linhas de leitura, isso acontece como forma de apresentar, no plano da ficção, aqueles que, com recorrência, a estrutura social tenta recalcar.