O projeto de transposição das águas do rio São Francisco constitui-se como uma das principais e mais relevantes obras do ponto de vista dos recursos hídricos do Nordeste e consequentemente, do semiárido brasileiro. Essa obra tem sido idealizada desde o início da ocupação das terras do interior e, principalmente, após a grande seca de 1877-79, que ocasionou diversos e profundos impactos negativos na região, como a morte de milhares de animais, a proliferação de doenças, migrações em massa para os
grandes centros urbanos e outras regiões do país e a morte de inúmeras pessoas (SOUZA E FILHO, 1983)
Após esse catastrófico evento que o Estado brasileiro mudou a forma de abordagem com relação à água e as secas na região. De acordo com Campos (2014) e Buriti e Barbosa (2018), a questão da seca não se tornou apenas uma problemática regional, mas também de caráter e relevância nacional. Em decorrência dessa mudança de enfoque, o Estado brasileiro executou diversas políticas públicas, sob diferentes matrizes ideológicas, que ocorreram e se sucederam desde então, tendo como principal destaque os recursos hídricos. Além de procurar superar os efeitos das estiagens e das secas, essas ações também tinham como objetivo estimular o desenvolvimento econômico e social na região.
O Projeto de Integração do rio São Francisco (PISF) é composto por duas principais intervenções: o primeiro denominado Eixo Norte, compreende as regiões semiáridas do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, o qual até 2021 estava em fase final de conclusão. A segunda intervenção do projeto é o chamado Eixo Leste, concluído em 2017 e que abrange diversos municípios dos estados de Pernambuco e Paraíba.
Diante disso, o objetivo deste trabalho é analisar as ramificações do PSIF e as obras hídricas atreladas a esse projeto nos estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba, com o intuito de avaliar os impactos destes nos recursos hídricos e nas ações de combate à seca, bem como a abrangência espacial dessas ações na região.
Justificasse a importância dessa temática, tendo em vista que a água é importante para se pensar o fenômeno das secas e as questões sociais que envolvem a permanência e a convivência da população com tal adversidade nas regiões semiáridas dos estados do Nordeste brasileiro.
Dessa maneira, torna-se necessário identificar as consequências, em âmbito local e regional, que as intervenções hídricas, principalmente as de grande porte, existentes ou que estão por vir, provocam ou provocarão as populações que residem na região.