Quando falamos de patrimônio, seja qual for sua qualificação, não estamos nos
referindo a um objeto neutro. Ao contrário, estamos chamando a atenção para algo que, ao longo do tempo, converteu-se em elemento de disputas e conflitos entre os mais diversos agentes (SCIFONI, 2006, 2006a). Cidadãos comuns, evidenciam a importância dos patrimônios e às garantias de usufruto daquilo que consideram ser fundamental preservar, no intuito de resguardar elementos que fazem parte da história da sociedade.
Agentes privados, procuram se apropriar dos patrimônios tendo por objetivo a obtenção de lucros através das mais variadas atividades econômicas. Agentes públicos, não raramente, na disputa pelo patrimônio, deixam de lado os interesses da sociedade e partem para defender as demandas por lucro dos diversos agentes privados.
Foi esta a situação que verificamos, ao estudar a fundo o processo de tombamento da área natural da Serra dos Cocais, em Valinhos (SP)3
. Iniciativa que partiu de setores da sociedade preocupados com a manutenção da mínima qualidade de vida na Região
Metropolitana de Campinas, assim que começou a tramitar junto ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) o processo esbarrou em interesses do poder público municipal de Valinhos que se manifestou contrariamente à proposta de tombamento passando a atuar como porta voz do capital. Isso ocorreu, em especial, no que diz respeito à defesa da propriedade privada e incentivo a processos de especulação imobiliária, indo na contramão dos interesses da sociedade que clama pela proteção e preservação do meio ambiente, e pela
manutenção da produção e cultura rurais que predominam nas pequenas propriedades existentes na região de domínio da Serra dos Cocais.
Neste sentido, tem-se assistido a uma forte tendência ao processo de expansão
urbana acompanhada de ações de intensa especulação imobiliária na região do município coberta pela Serra dos Cocais. Em Valinhos, o capital tem tendido ao processo de reprodução através da especulação imobiliária, onde se dá prioridade a ações de urbanização que se pautam na segregação via condomínios e loteamentos fechados, num modelo de desenvolvimento que visa, única e exclusivamente, aumentar a arrecadação de impostos. Mesmo que para isso seja necessário destruir ambientes naturais, secar fontes de água ou acabar com elementos relacionados à produção e cultura rurais, o que gera problemas, tais como a privatização da natureza, a falta d’água, ameaças à fauna e à flora,
grandes modificações nas paisagens naturais, além do processo de êxodo rural que leva a um acelerado processo de expansão urbana das cidades.