LEITURA ANALÍTICA DO POEMA TABAGISMO DE SÉRGIO DE CASTRO PINTO: UMA PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA À LUZ DA ESTÉTICA DA RECEPÇÃO
OLIVEIRA, Gabriela Santana de (POSLE/UFCG)
Orientador: José Hélder Pinheiro Alves (UFCG)
1.INTRODUÇÃO:
Repensar a literatura no âmbito da sala de aula é navegar por mares desconhecidos para muitos professores, visto que, o historicismo tem sido reproduzido no livro didático e consequentemente, na prática docente. Nesse sentido, ao longo do presente estudo compreendemos que a chegada da História da Literatura ao ambiente escolar provém da influência do caráter retórico da educação grega que acabou sendo mal interpretada pela escola.
Nesse interim, a finalidade desse trabalho pauta-se na leitura analítica do poema: Tabagismo da obra poética O Cristal dos Verões (2007) do paraibano Sérgio de Castro Pinto. Temos consciência de que poderíamos ter escolhido outros poetas mais conhecidos, contudo, almejamos adentar na poética desse autor porque ela possui valor estético e tem sido contemplada em diversas antologias publicadas no Brasil e no exterior.
Desde 1967 a poesia de Castro Pinto tem atuado na literatura paraibana, trazendo em sua primeira fase uma proposta neo-vanguardista do Sanhauá, ao aglutinar em sua poética o lirismo cabralino. Mesmo com sua atuação tanto no período de vigência do Sanhauá como na segunda fase de sua produção literária, a poesia de Castro Pinto permanece desconhecida entre o grande público-leitor do Brasil. O que nos motivou a estudar profundamente os procedimentos estéticos utilizados para posteriormente elaboramos uma proposta de sequência didática para ser trabalhada no Ensino Médio.
Para realizarmos essa associação entre a parte crítica e o ensino, discorreremos sobre o papel da Estética da Recepção como elo entre a teoria e a prática. Essa vertente teórica embora não seja eminentemente pedagógica, tem contribuído para o campo do ensino, tendo em vista que ela busca repensar o papel do leitor no processo de ensino-aprendizagem.
Desse modo, buscaremos conhecer mais detidamente a análise do poema Tabagismo lançando mão de uma Sequência Didática Básica e suas etapas, possibilitando assim abordagens com o poema do autor paraibano como forma de incentivo à formação de leitores de poesia.
2. FUNDAMENTAÇÃO
Dessa maneira, a proposta do presente trabalho busca discutir não essa sistematização como algo fechado, mas como uma possibilidade de trabalhar com o poema em sala de aula através da sequência básica que possui as seguintes etapas: motivação, introdução, leitura e interpretação.
A motivação corresponde ao momento em que o aluno será preparado para entrar no poema. Poderemos levar embalagens de cigarros comerciais, também é interessante recorrer ao datashow para que todos possam ver as imagens e discutir com os alunos o que elas representam. O professor pode levar imagens de diferentes pessoas fumando e também mostrar as consequências do cigarro. Além disso, a temática do poema permite um trabalho interdisciplinar com o professor de Biologia e de Química.
Sem emitir nenhum tipo de juízo de valor, sugerimos que o educador inicie uma discussão com os alunos. Após essas imagens, o docente tem a possibilidade de escrever em caixa alta o nome “TABAGISMO” no quadro e pedir aos discentes que relatem suas impressões diante dessa palavra, o que levará o educador a conhecer o horizonte de expectativas da turma. As possíveis perguntas para estimular o discente a interagir na aula podem ser as seguintes: alguém na turma fuma?, Vocês conhecem alguém próximo ou um familiar que seja fumante? Ou até outras perguntas elaboradas, o que depende da realidade da turma. Mediante esses questionamentos o professor estará criando condições para que o poema seja recebido pelos discentes. Uma postura como essa permite que o processo de leitura se dê de forma prazerosa como um instrumento democrático em sala de aula. É importante ressaltar que o educador não deve conduzir essas atividades como algo inflexível, pois uma postura como essa pode afastar os alunos da poesia.
Para Cosson (2006, p. 57) a introdução de uma sequência didática corresponde à apresentação do leitor e da obra. Não se trata de cair na memorização dos aspectos gráficos, no velho e conhecido estudo da vida e obra do autor. Essa etapa tem a finalidade de fazer Pinheiro (2007, p. 82) chama de uma boa apresentação do produto que no presente caso corresponde à apresentação da obra: O Cristal dos Verões (2007). Contudo, há que se ter o cuidado para não impor nada, pois na introdução estaremos despertando o gosto leitor dos alunos através de um “jogo de sedução” (PINHEIRO, 2007, p. 82) com o poema a ser lido.
O momento da leitura propriamente dita pode ser auxiliado com o uso de antologias para evitar que o professor perca tempo copiado os poemas no quadro. Como a nossa proposta contempla apenas um poema, o docente pode levá-lo digitado e poderá ser distribuído para os alunos realizarem uma leitura silenciosa. Como sugestão, o educador pode levar uma música de fundo de acordo com o tom do poema e o seu ritmo para que os alunos possam acompanhar a leitura e compreender de forma instigante como o som, o ritmo e o tom são importantes para as significações da poesia.
Feito isso, teremos a interpretação, que não deve ser fechada, mas precisa estimular os discentes a falarem dos pontos que mais chamou a sua atenção. Caso o aluno tenha dificuldade, o educador pode dar o ponto de partida mostrando a dimensão lexical, sonora e semântica do poema, conforme fizemos no momento da análise.
Para finalizarmos a nossa proposta é proveitoso que essas atividades não tenham como fim uma prova, porém uma produção final que valorize a criatividade e o lúdico na sala de aula. Tendo em vista que temos o objetivo de incentivar a formação de leitores de poesia, é possível montar uma exposição na escola com cartazes que contenham versos de outros poemas de Castro Pinto. Uma atividade como essa permite que os demais da escola também conheçam os poemas, despertando interesse de outras turmas.
Sendo assim, as propostas defendidas nesse trabalho são possibilidades que são passíveis de adaptações. Além desse aspecto, a escolha por um poema de Castro Pinto ocorreu porque acreditamos que o aluno também deve ter acesso a poemas contemporâneos de sua realidade social e que apresentam qualidade estética como verificamos na análise de Tabagismo. Quanto à análise realizada, ela precisa ter a devida transposição didática do professor, de maneira que, ela não deve ser instrumento de imposição na hora da leitura, mas um ponto de partida que ajude os docentes a trabalharem os aspectos estéticos e temáticos do poema como elementos que compõem a significação.
3. METODOLOGIA
Trata-se de pesquisa bibliográfica qualitativa, uma vez que parte desse trabalho discutiu teoricamente a Estética da Recepção e suas interfaces com o leitor e a obra literária. Também analisamos o poema: Tabagismo de Sérgio de Castro Pinto, no qual discutimos de que modo a sua lírica é construída nos aspectos fônicos, imagéticos e estruturais do poema. Além da parte crítica desse trabalho, elaboramos uma proposta de inserção em sala de aula a partir da teoria da recepção em Jauss. Com vistas a agregar as contribuições dessa teoria com o ensino de literatura, discutimos de que modo o poema analisado pode ser discutido e trabalhado no Ensino Médio. Portanto, elencamos algumas etapas que sugerem uma abordagem de leitura com o texto de Sérgio de Castro Pinto.
4. CONCLUSÃO
A partir das discussões arroladas no decorrer desse trabalho, almejamos propor uma abordagem de ensino que oportunize o trabalho com a poesia, um gênero literário ainda marginalizado na sala de aula. Uma proposta como essa além de abrir possibilidades de se trabalhar com poemas no Ensino Médio, democratiza o acesso a autores contemporâneos como é o caso de Sérgio de Castro Pinto, mas que carecem de metodologias que privilegiam a voz do aluno. Portanto, ela não deve ser vista como uma receita pronta, contudo como uma possibilidade de incluir um poeta ainda desconhecido nos manuais didáticos para o cotidiano escolar mediante uma experiência de leitura.
REFERÊNCIAS:
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.
JAUSS, Hans Robert. História Literária como Desafio à Ciência Literária. Porto: Livros Zero, 1994.
PINHEIRO, Hélder. Poesia na sala de aula. 3. ed. Campina Grande: Bagagem, 2007.
PINTO, Sérgio de Castro Pinto. O cristal dos verões, poemas escolhidos: 40 anos de poesia (1967- 2007). São Paulo: Escrituras, 2007.