CUNHA, Daniel Barcelos Da. Intolerância de gênero no espaço das redes sociais. Anais VII ENALIC... Campina Grande: Realize Editora, 2018. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/52244>. Acesso em: 25/12/2024 23:31
INTOLERÂNCIA DE GÊNERO NO ESPAÇO DAS REDES SOCIAIS Daniel Barcelos da Cunha / danielbcunha@gmail.com / UFMA / IFMA Maria Consuelo Alves Lima / mconsuelo@ufma.br / UFMA Jackson Ronie Sá-Silva / prof.jacksonronie.uema@gmail.com / UEMA Eixo Temático: Cidadania, Direitos Humanos e Interculturalidade - com ênfase na educação em direitos humanos, na superação da violência e da indisciplina nas escolas, em suas diferentes formas de manifestação Resumo Analisa-se a reprodução de discursos de intolerância de gênero numa rede social, na perspectiva do movimento Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), a partir da análise de um problema local usado como cenário de aprendizagem com o suporte de saberes científicos (RICARDO, 2007), desenvolvendo nos alunos e nas alunas capacidades para tomadas de decisões responsáveis diante de problemas de importância social (SANTOS, 2007). A situação problema foi constatada durante um evento numa universidade pública de São Luís, Maranhão, após uma escadaria ser pintada por uma aluna com as cores do arco-íris. Em reação condenatória, a pintura foi pichada com um trecho bíblico. A forma de interagir dos jovens, num reflexo dos hábitos de consumo da tecnologia atual, levou a foto da escadaria pichada para o Facebook gerando diversos comentários de intolerância sobre homossexuais. Enquanto a percepção mais comum sobre o desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia é sinônimo de progresso como fruto de uma ciência neutra, seu desenvolvimento e produtos não são independentes de seus interesses. Elas produzem impactos em campos como a ética, o social, o político e o militar, sem a percepção pública de que tal desenvolvimento envolve interesses de classes dominantes e restrições para as classes menos favorecidas, além de muitas vezes serem expostas aos perigos dos artefatos tecnológicos (PINHEIRO; SILVEIRA; BAZZO, 2007). Esses artefatos, geralmente, não são produzidos para atender as reais necessidades das pessoas (RICARDO, 2007). As redes sociais, vistas como artefatos tecnológicos, podem ser questionadas sobre a ideia de neutralidade e suas implicações sociais como em manifestações homofóbicas. Lima e Siqueira (2013) consideram a concepção CTS pertinente no que envolve conteúdos relacionados a sexualidade nas aulas de Ciências, pois promove em alunos e alunas posicionamentos e tomadas de decisões com relação a si mesmo e diante da sociedade, conduzindo a reflexões sobre problemas sociais como exclusão, discriminação e opressão. O objetivo dessa discussão é refletir sobre formas de abordagem desse problema social no ensino de Ciências, para estimular o desenvolvimento da cidadania, a tomada de decisões e a desconstrução de preconceitos. Após levantamento bibliográfico sobre as temáticas, o estudo foi estruturado em quatro seções e considerações finais. A primeira seção traz uma breve abordagem histórica sobre o movimento CTS a partir de textos divulgados no Brasil, como Auler e Bazzo (2001), Linsingen (2007), Pinheiro, Silveira e Bazzo (2007) e Ricardo (2007), que tratam das relações entre os postulados da abordagem CTS e a Educação e fazem reflexões sobre desafios a serem superados para que seja possível um ensino de Ciências com este enfoque. A segunda seção aborda a dependência da sociedade para com produtos tecnológicos e seus impactos sociais (RICARDO, 2007). Aponta o Facebook como produto de tecnologia virtual, fruto de investimentos e interesses financeiros, que veicula um fluxo de comunicação gigantesco manifestando muitas vezes a violência simbólica como observado por Silva (2016) em estudo sobre a página "Homossexualismo" do Facebook. A terceira seção apresenta a homossexualidade como uma construção discursiva de saber-poder produzido pela Ciência, mais especificamente a ciência biomédica, a partir das argumentações do filósofo francês Michel Foucault (2015) e sua ideia de dispositivo de sexualidade. A classificação dos sujeitos e das sexualidades pela Medicina produziu essa identidade que foi considerada anormal e patológica. As argumentações teóricas de Silva (2014) sobre a produção cultural das identidades ajudaram a compreender porque a homossexualidade é percebida como algo negativo em uma sociedade que considera anormais aqueles/as que não se enquadram na norma heterossexual. Para Borrillo (2010), a divisão de gêneros funciona como dispositivo de ordem social - além dos aspectos reprodutivos - e a homofobia é guardiã das fronteiras de sexo e de gênero, o que explica o fato de muitas vítimas não serem homossexuais, mas quaisquer pessoas que não se enquadram no modelo heteronormativo. Na quarta seção, consideramos a aproximação entre o ensino sobre sexualidade e a perspectiva CTS, considerando o modelo biológico e levando os alunos e alunas a participarem com discussões sobre questionamentos em situações do cotidiano (LIMA; SIQUEIRA, 2013). A problemática gerada pela pintura da escadaria e o uso da fotografia no Facebook constituem-se em material rico para se trabalhar questões sociais relacionadas a sexualidade, conceitos biológicos, culturais e éticos preparando o cidadão para realizar escolhas e tomar decisões com conhecimento científico fundamentado. Considerando o significado de contextualização defendido por Santos (2007), a discussão sobre o evento da escadaria pode ser útil para promover reflexão sobre o que resulta na homofobia, as condições históricas que levaram a caracterização, a patologização, e a produção do discurso homofóbico, contribuindo para a desconstrução das concepções e preconceitos diante da homossexualidade, podendo ser discutida na escola em uma perspectiva CTS a partir de situações reais e locais. Contextualizar situações problemas nas aulas de Ciências, oportuna o conhecimento da história, intenções e interesses que envolvem as redes sociais, desconstrói a distorcida visão biológica da sexualidade, promove reflexões que envolvem alteridade e estimula a tomada de decisões responsáveis diante das diferenças e do uso de tecnologias que muitas das vezes são utilizadas para gerar estigmas, preconceitos, violências e exclusões. Palavras-chave: Homofobia, Redes Sociais, CTS Referências AULER, D.; BAZZO, W. A. Reflexões para a implementação do movimento CTS no contexto educacional brasileiro. Ciência & Educação. v. 7, n. 1, p. 1-13.2001. BORRILLO, D. Homofobia: história e crítica de um preconceito. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 141 p. FOUCAULT, M. História da sexualidade: a vontade de saber. São Paulo: Paz e Terra, 2015. 175p. LIMA, A. C.; SIQUEIRA, V. H. F. de. Ensino de gênero e sexualidade: diálogo com a perspectiva de currículo CTS. Alexandria. Revista de Educação em Ciência e Tecnologia. v. 6, n.3, p. 151-172, nov. 2013. LINSINGEN, I. von. Perspectiva educacional CTS: aspectos de um campo em consolidação na améria latina. Ciência & Ensino., v. 1, n. especial, 2007. PINHEIRO, N. A. M.; SILVEIRA, R. M. C. F.; BAZZO, W. A. Ciência tecnologia e sociedade: a relevância do enfoque CTS para o contexto do ensino médio. Ciência & Educação. V. 13,, n. 1, p. 71-84, 2007.