Artigo Anais VII ENALIC

ANAIS de Evento

ISSN: 2526-3234

ETNOCIÊNCIAS EM DIÁLOGO COM A FORMAÇÃO DE PROFESSORES: LIMITES E POSSIBILIDADES

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Desta feita, busca-se o fortalecimento vivências interculturais na universidade e nas escolasaliado a uma boa base conceitual sobre ensino de Ciências, Direitos Humanos e Interculturalidade como possibilidade de combate às diversas formas de preconceito e discriminação ainda tão presentes na sociedade. A Etnociências tem um caráter político e antropológico, pois aproxima a educação científica de grupos que se identificam por tradições e objetivos que os singularizam, como o povo africano, os indígenas, os quilombolas, por exemplo.Nessa perspectiva, a Etnociências situa-se em um contexto social bem demarcado, envolve os saberes de comunidades tradicionais, associando-os ao conhecimento científico. Assim, na compreensão de Rosa e Orey (2012, p. 867), "[...] os membros dos grupos culturais têm a própria interpretação de sua cultura, denominada abordagem êmica, em oposição à interpretação dos pesquisadores e investigadores, denominada abordagem ética". Tal posicionamento desafia pesquisadores ao exercício do olhar a partir da perspectiva de como os sujeitos de um grupo cultural compreendem suas próprias manifestações.Em perspectiva semelhante, é possível um diálogo entre a Etnociências e a essência da Etnomatemática, revelada por D´Ambrosio (2011) como uma contribuição para a reflexão sobre a descolonização, empoderando o subordinado, favorecendo a sua autonomia, restaurando a sua dignidade e valorizando as suas raízes, com ética, solidariedade, respeito e cooperação, numa perspectiva holística de educação. Verrangia (2014, p. 12) afirma que em relação ao ensino de Ciências e o combate ao racismo, por exemplo, há "uma ausência quase total de orientações específicas, tanto formuladas por parte do governo quanto da literatura em educação e ensino de Ciências no Brasil". Por outro lado, isso deve ser visto como uma possibilidade para que novas pesquisas sejam empreendidas, discutindo o ensino de Ciências da Natureza e Matemática em diálogo com as questões étnico-raciais. Somente no início do século XXI, após incontáveis movimentos políticos e de resistências, as políticas públicas asseguraram direitos com relação à diversidade cultural, étnico-racial, religiosa, política, entre outras. Resultados disso são a criação de leis, como a 10.639/03, que estabelece a inclusão da temática História e Cultura Afro-Brasileira na Rede de Ensino e a 11.645/08, que complementa a lei anterior, inserindo a História e a Cultura Afro-Brasileira e Indígena no currículo obrigatório do Ensino Fundamental e Médio. Por outro lado, a implementação de tais leis ocorre de modo inconsistente, pois entre o escrito e o vivido há um distanciamento, uma vez que a maioria dos profissionais da educação que exercem o magistério não teve contato com essa temática em sua formação inicial e/ou contínua. Nesse sentido, dialogando com a interculturalidade na formação de professor, o presente trabalho tem como objetivo compreender os limites e as possibilidades da Etnociências na formação contínua de professores que atuam na Educação Básica no Maciço de Baturité/CE, onde se encontra a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). A pesquisa é de abordagem qualitativa, pois "[...] é focalizada no indivíduo, com toda a sua complexidade, e na sua inserção e interação com o ambiente sociocultural e natural" (D'AMBROSIO, 1996, p. 103). Metodologicamente, a investigação desenvolve-se no âmbito do projeto de extensão Formação Contínua de Professores de Ciências da Natureza e Matemática em diálogo com a Diversidade Étnico-Racial, utilizando como estratégias de aproximação com a realidade, a observação participante, a análise documental e a realização de entrevistas.A interdisciplinaridade, a flexibilização do currículo, o diálogo intercultural e a interação teoria-prática são os eixos norteadores da política de ensino-extensão e pesquisa da Unilab, compreendendo "a educação a partir da contextualização do homem em sua história e realidade social" (UNILAB, 2014, p. 3). É possível considerar que a ética e o resgate da cultura favorecem um processo de humanização, que leva a várias dimensões, como a tolerância, o respeito, a humildade, a esperança e uma abertura ao desafio de desenvolver novas aprendizagens, quebrando o pensamento didático hegemônico e marcando um novo compromisso, que é pedagógico, social, ético, político e, portanto, surge na perspetiva da horizontalidade. Isso permite que os docentes pensem possibilidades de trazer para o dia-a-dia dos discentes os conhecimentos tradicionais presentes no cotidiano da comunidade em que estão inseridos e busquem um diálogo com conceitos e fórmulas que nos livros são abstratos e de difícil assimilação, podendo fazer uma grande diferença na vida escolar e acadêmica deles. Palavras-chave: Etnociências, Formação do professor, Interdisciplinaridade, interculturalidade. Referências BRASIL. Lei 10.639. Altera a Lei nº9394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e base da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-brasileira" e dá outras providências. Brasília: Casa Civil, 2003. _____. Lei 11.645/08. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena". Brasília: Casa Civil, 2008. D´AMBROSIO, U. Educação Matemática: da Teoria à Prática. Campinas: Papirus, 1996. ___________. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. ROSA, M.; OREY, D. C. O campo de pesquisa em etnomodelagem:as abordagens êmica, ética e dialética. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 38, n. 04, p. 865-879, out./dez. 2012. VERRANGIA, D. Educação científica e diversidade étnico-racial: o ensino e a pesquisa em foco. In: Interacções. Revista Journal. N. 31, p. 2-27, 2014. UNILAB. Projeto Pedagógico do Curso de Ciências da Natureza e Matemática - Licenciatura. Redenção/CE, 2014. "
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Publicado em 03 de dezembro de 2018

Resumo

RESUMO: A busca de conhecimento singulariza historicamente a humanidade, pois desde quando iniciou o processo de domínio e transformação da natureza garantiu a sua reprodução social, transmitindo gradativamente, valores e hábitos de geração a geração. Nesse percurso, o eurocentrismo tem assumido centralidade nos processos formativos, implicando em uma compreensão distorcida de nossas raízes, que prioriza a representação do branco, europeu, como único sujeito que compôs a nossa história, subalternizando, ou mesmo negando, as contribuições de outras etnias. Com as mudanças constantes nas formas de aprender e ensinar, os processos de Formação de Professores em diálogo com seu exercício profissional devem favorecer o desenvolvimento pessoal, profissional e social dos docentes, assentados em projetos de vida do docente (individual), Projeto Político-Pedagógico da Escola (coletivo) e projeto de sociedade. Desta feita, busca-se o fortalecimento vivências interculturais na universidade e nas escolasaliado a uma boa base conceitual sobre ensino de Ciências, Direitos Humanos e Interculturalidade como possibilidade de combate às diversas formas de preconceito e discriminação ainda tão presentes na sociedade. A Etnociências tem um caráter político e antropológico, pois aproxima a educação científica de grupos que se identificam por tradições e objetivos que os singularizam, como o povo africano, os indígenas, os quilombolas, por exemplo.Nessa perspectiva, a Etnociências situa-se em um contexto social bem demarcado, envolve os saberes de comunidades tradicionais, associando-os ao conhecimento científico. Assim, na compreensão de Rosa e Orey (2012, p. 867), "[...] os membros dos grupos culturais têm a própria interpretação de sua cultura, denominada abordagem êmica, em oposição à interpretação dos pesquisadores e investigadores, denominada abordagem ética". Tal posicionamento desafia pesquisadores ao exercício do olhar a partir da perspectiva de como os sujeitos de um grupo cultural compreendem suas próprias manifestações.Em perspectiva semelhante, é possível um diálogo entre a Etnociências e a essência da Etnomatemática, revelada por D´Ambrosio (2011) como uma contribuição para a reflexão sobre a descolonização, empoderando o subordinado, favorecendo a sua autonomia, restaurando a sua dignidade e valorizando as suas raízes, com ética, solidariedade, respeito e cooperação, numa perspectiva holística de educação. Verrangia (2014, p. 12) afirma que em relação ao ensino de Ciências e o combate ao racismo, por exemplo, há "uma ausência quase total de orientações específicas, tanto formuladas por parte do governo quanto da literatura em educação e ensino de Ciências no Brasil". Por outro lado, isso deve ser visto como uma possibilidade para que novas pesquisas sejam empreendidas, discutindo o ensino de Ciências da Natureza e Matemática em diálogo com as questões étnico-raciais. Somente no início do século XXI, após incontáveis movimentos políticos e de resistências, as políticas públicas asseguraram direitos com relação à diversidade cultural, étnico-racial, religiosa, política, entre outras. Resultados disso são a criação de leis, como a 10.639/03, que estabelece a inclusão da temática História e Cultura Afro-Brasileira na Rede de Ensino e a 11.645/08, que complementa a lei anterior, inserindo a História e a Cultura Afro-Brasileira e Indígena no currículo obrigatório do Ensino Fundamental e Médio. 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