Objeto crescente de interesse de pesquisas, o estudo da transexualidade tem se ocupado
de questões que contemplam a diversidade e a contingência de gênero, sexualidade,
identidade, corporalidade, entre outras, sobretudo, demonstrando interesse nos
desdobramentos sociopolíticos da não conformidade com as normas de gênero
(BUTLER, 2003) fundadas no binarismo masculino e feminino. Nesse sentido, os estudos
sobre a transgeneridade também se interessam pelas narrativas de vida e organização
social de pessoas e comunidades transgêneras, bem como os meios de produção cultural
que representam ou expressam a diversidade de gênero, e, ainda, a medicalização das
identidades transgêneras e despatologização das diferenças corporais. Observo que há no
escopo dessas pesquisas um direcionamento para mudar as condições de produção do
conhecimento sobre o fenômeno transgênero, fortemente circunscritos nos domínios do
saber/poder (FOUCAULT, 1997) das ciências médico-biológicas, que ainda concebem a
transgeneridade como condição clínica de transtorno de identidade de gênero. Esse
trabalho, que é uma pequena amostra da nossa tese de Doutorado, se inscreve na esteira
dessa perspectiva despatologizadora (BORBA, 2004), proposta por alguns estudos
feministas e pela Teoria Queer, concebendo que os estudos transgêneros podem ser
conduzidos a partir de uma ótica multidisciplinar, uma vez que têm objetos complexos,
como o corpo, as memórias e as subjetividades de pessoas transgêneras. Dito isso,
pretendemos revisar algumas bibliografias defender a ideia de que a identidade de gênero
não é um a priori, mas uma construção social, histórica, ideológica que reveste de
sentidos o corpo transgênero, ao definir/determinar o que é/como ser homem ou mulher.