A diferença entre o conhecimento do potencial de uma planta e o seu uso atual vem estimulando a criação de índices para mensurar estes dois tipos de valores, o cultural e o prático, já que uma espécie com valor cultural alto não necessariamente tem um alto valor prático. Além disso, o uso de determinado recurso vegetal pode estar relacionado à sua disponibilidade no ambiente, o que tem levado muitos autores a testar a “hipótese da aparência ecológica” em estudos etnobotânicos. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o nível de conhecimento sobre espécies vegetais nativas da Caatinga, bem como seu uso atual, na comunidade Caboclos de Açu, Açu, RN, testando ainda a hipótese da aparência ecológica. A partir do índice de valor de importância (IVI) obtido a partir de dados secundários, foram selecionadas 14 espécies arbóreas que diferem em “aparência” na área de estudo. Foram apresentadas fotos das espécies selecionadas aos informantes e estes foram questionados acerca do conhecimento e respectivos usos das mesmas. A partir destes dados foram obtidos os índices de valor de uso conhecido (VU1) e uso corrente (VU2) das 14 espécies. Dos 54 informantes, Dos 54 informantes, 66% conhecem mais de dez espécies, 30% conhecem entre cinco e dez espécies e 4% conhecem menos de cinco espécies. Em relação ao uso corrente, 8% não usa nenhuma espécie, 24% dos informantes usam menos de cinco espécies, 59% usam entre cinco e dez espécies, e 9% usam mais de dez espécies. A maioria (78,5%) das espécies é empregada devido ao seu potencial madeireiro Neste estudo, não foi encontrada correlação entre o IVI e o VU1 das espécies (r = -0.2767, p > 0.05), tampouco entre o IVI e o VU2 (r = -0.2270, p > 0.05). Desta forma, os resultados encontrados não corroboram a hipótese da aparência ecológica na comunidade estudada, tendência já observada em outros trabalhos que avaliaram a hipótese mencionada em áreas de caatinga.