O presente trabalho tem por objetivo analisar, semioticamente, as narrativas orais de valentia, buscando observar os valores sócio-culturais e históricos capazes de reverberar, explicitamente ou não, uma identidade nordestina ainda em efervescência. Como arcabouço teórico, utilizou-se os modelos atuais da Semiótica Greimasiana, mais especificamente, o da Semiótica do Discurso, que tem como principais expoentes: GREIMAS (1977), COURTÉS (1991) e PAIS (1991). O corpus constou de quatro versões do romance tradicional O Boi Espácio, do qual se extraíram os dados que permitiram chegar à confirmação da hipótese norteadora da pesquisa: o povo produz, em sua literatura, formas específicas de representação, reprodução e reelaboração simbólica de suas relações sociais, o que a torna um verdadeiro registro da cultura nordestina. Realizamos uma análise da estrutura enunciativa do referido romance, procurando estabelecer a correlação entre as projeções actoriais e os elementos sócio-culturais que subjazem ao texto. Nas peças examinadas, o boi aparece sob os aspectos da realidade e da imaginação popular, exercendo, imponentemente, o papel de protagonista. É um herói autêntico cuja caracterização reverbera, inconscientemente ou não, uma formação ideológica na qual emergem elementos culturais de auto-afirmação e de auto-reconhecimento, ou seja, o fazer-ser do animal representa, substancialmente, o ser, o ethos de um povo, de uma região. Seus dons físicos, suas façanhas extraordinárias, além de lhe garantir superioridade, contribuem, consideravelmente, para a construção de uma imagem que, ao concentrar valores de merecimento e grandiosidade, passa a servir de referência sócio-histórica para a sociedade que a concebe.