A paisagem holocênica de Quatipuru-PA, mostra uma variedade de ambientes costeiros como as restingas, manguezais, planícies de maré e campos herbáceos salinos inundáveis. As florestas de terra firme e de várzea em planícies inundáveis ocorrem no contexto do Planalto Costeiro. A rica diversidade de ambientes mostra importantes fontes de recursos alimentares, atrativas para a mais antiga ocupação pré-colombiana do litoral do estado do Pará, nos últimos 6.000 anos. O artigo objetiva relacionar a evolução da paisagem costeira à ocupação pré-colombiana de grupos pescadores-coletores ao longo da bacia do rio Quatipuru. Os procedimentos metodológicos incluíram trabalho de campo com a localização e inserção geográfica e ambiental dos sambaquis através do uso de geotecnologias, a análise de seus constituintes tombados na reserva técnica Mário Ferreira Simões do Museu Paraense Emílio Goeldi-MCTIC, junto com as datações C14, revisões bibliográficas. Os resultados mostraram que a ocupação iniciou em ambiente fluvial do médio curso do rio Quatipuru, datado em 5.570 ± 125 anos, evidenciado pela dominância do gastrópode fluvial Pomatia linneata, nome do sambaqui Uruá, em associação com abundantes ossos de aves, mamíferos e répteis aos ambientes de campos herbáceos e várzeas. No sambaqui Porto da Mina, datado em 5.165 ± 195 anos notou-se a dominância de vértebras de pequenos peixes, gastrópodes, bivalves litorâneos e pinças de crustáceos, indicando franco domínio de técnicas para a obtenção de recursos alimentares fortemente ligados aos ambientes litorâneos e estuarinos, em planície lamosa de maré dominado por Rhizophora mangle L.