Um grupo de fazendeiros supostamente organizou incêndios florestais em larga escala na Amazônia em 2019 como protesto contra as políticas ambientais, evento que ficou conhecido como “Dia do Fogo”. Este estudo investiga a dinâmica do desmatamento e dos incêndios florestais no "Dia do Fogo", com foco nos seus desdobramentos na relação entre esses fenômenos e o financiamento bancário no contexto da área de influência da BR-163 no trecho paraense. Para tanto, foram utilizados dados de uso e cobertura da terra (projeto Sentinel-2), estrutura fundiária (SICAR), desmatamento e focos de calor (INPE), autuações e embargos (IBAMA) e concessões de crédito rural (BACEN) em função de uma abordagem socioambiental. Observou-se que imóveis autodeclarados privados nessas áreas apresentaram altos índices de desmatamento e queimadas, mesmo sob embargo ambiental, demonstrando a ineficácia parcial das medidas de comando e controle executada pelo Estado brasileiro. A análise do financiamento rural revelou que um percentual significativo das propriedades com histórico de queimadas recebeu elevados valores de crédito rural, o que, aliado à legislação ambiental permissiva, incentiva a degradação ambiental. Conclui-se que a fragilidade da legislação e a morosidade quanto a fiscalização contribuem para a persistência de práticas ilegais, como a grilagem e o desmatamento, na região amazônica, especialmente nas Florestas Públicas Nãos Destinadas da União.