O presente texto traz reflexões de duas pesquisadoras envolvidas com a educação das crianças das classes populares, majoritariamente negras. Nosso lugar no mundo nos coloca a trazer, nesse texto, reflexões sobre o processo de construção da identidade negra de modo positivo. Destacamos o modo positivo porque reconhecemos o quanto estamos inseridos em uma sociedade que, historicamente, ensina aos sujeitos negros, desde muito cedo, que para ser aceito é preciso negar-se. Este fato nos desperta a atentar para a importância de se falar/estudar/discutir sobre a diversidade cultural no cotidiano escolar. Pensar sobre a diversidade cultural nos desloca de uma suposta zona de conforto redirecionando nossas vozes, gestos e ações cotidianas para a luta, nos levando a buscar nas teorias elementos que nos fortaleçam para que possamos atuar no sentido de uma construção de uma educação de fato antirracista nos espaços em que atuamos. A partir de estudos realizados no âmbito das pesquisas sobre relações étnico-raciais, educação e infâncias e das nossas experiências no cotidiano com as crianças e famílias com as quais trabalhamos, vamos registrando o quanto a identidade negra, quando não é negada, é atacada, pois é atenuada a partir do famigerado mito da democracia racial e direcionamos o nosso trabalho no sentido de fazer aparecer, valorizar e sedimentar esta identidade. Com relação a superação do racismo concordamos sobre a urgência de falar, de saber como falar, compreendendo o que se fala, e sermos atuantes na construção de práticas e estratégias de enfrentamento, de transformação. Tomar consciência nos conduz a luta por direitos, incluindo o direito das crianças negras de saber quem são, de descobrir e reconhecer o valor da sua negritude.