Este artigo pauta as sementes crioulas enquanto pilar dos agroecossistemas sustentáveis no âmbito da agricultura familiar camponesa. Diante da crescente erosão genética das sementes locais e da necessidade de prospecção, resgate, cultivo e conservação de variedades crioulas no estado da Bahia, surge o Projeto “A Cor Morena das Sementes Crioulas da Bahia”, iniciado em maio de 2015 com o objetivo de prospectar e estimular a conservação do patrimônio genético ainda existente no âmbito da agricultura familiar camponesa e em território de povos tradicionais (indígenas, quilombolas, fundo de pasto) com ênfase nos milhos e feijões. São utilizadas metodologias participativas, o diálogo entre saber camponês e conhecimento acadêmico, a Pesquisa-ação, visitas técnicas, as turnês guiadas e as oficinas. Estão sendo resgatas variedades pouco conhecidas e que geralmente são conservadas em unidades familiares, com destaque para as variedades de milho (Zea L., Poaceae): batim, papuco roxo, catetinho, cateto, cuba, asteca e moleque; de Phaseolus L. (Fabaceae), feijão de arranca (rosinha, come calado, bagajó, bage roxa, enrica homem e sempre assim); de feijão Vigna Savi, conhecido como feijão de corda, caupi, macassar; além de inúmeras variedades de fava e três variedades de mangalô (Lablab Adans.). Ressalta-se a importância da Pesquisa-ação participativa e apresenta-se brevemente a experiência do “I Encontro de Jovens Agricultores e as Sementes Crioulas”. Por fim, são elaboradas estratégias para conservação das variedades locais, on farm, com destaque para a instalação de bancos ou casas de sementes e métodos de armazenamento de semente em ambientes domésticos e/ou comunitários. Mais que projetos isolados, são necessárias políticas públicas para a agrobiodiversidade, que superem o difusionismo e os programas governamentais de distribuição de sementes, geralmente adquiridas de empresas que possuem campos de cultivos de variedades exógenas e manejadas sob técnicas que levam a dependência dos agricultores.