Introdução
O envelhecimento por ser uma temática que envolve aspectos multidimensionais vem sendo campo de investigações em diversos países, numa tentativa de encontrar estratégias para que a população idosa possa alcançar autonomia para gerir suas atividades funcionais diárias e com isso ter efetivamente à melhoria da qualidade de vida.
A população de idosos no Brasil, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013), deve chegar em 2020 em aproximadamente 30 milhões de indivíduos com mais de sessenta anos, por este motivo é necessário investir em programas de promoção da saúde que incluam atividades que estimulem esta população a ser autônoma em suas Atividades da Vida Diária (AVD´s) e Atividades Instrumentais da Vida Diárias (AIVD´s).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS (1947 apud Jacob Filho 2006, p.75) “saúde é um estado de pleno bem-estar físico, psíquico e social”.
De um modo geral esta definição de saúde preconiza que, envelhecer saudável é ter autonomia para executar atividades cotidianas sem ajuda, ter equilíbrio psicológico, uma boa convivência social, mesmo coexistindo as doenças típicas e inerentes ao envelhecimento.
A atividade física traz para o idoso a oportunidade de aumentar o convívio com outros, desenvolvendo o bem-estar social, psicológico e principalmente físico, sendo importante para que o idoso tenha autonomia nas AVD´s e AIVD´s, pois, com a perda da capacidade funcional e o passar dos anos, as atividades simples como andar, pentear-se e calçar os sapatos podem representar grande dificuldade (Okuma,1998).
O presente estudo teve o objetivo de identificar a percepção de idosos institucionalizados da capacidade funcional e autonomia através da descrição das AVD´s e AIVD´s, para que os mesmos a partir das evidências do presente estudo possam ser melhor orientados quanto as questões relacionadas ao grau de autonomia e dependência funcional.
Metodologia
Caracterização do estudo
O presente estudo se caracterizou como uma pesquisa do tipo transversal e descritiva com uma abordagem de análise de dados predominantemente quantitativa (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012).
Local do estudo
A pesquisa foi realizada numa casa de repouso para pessoas na terceira idade, sendo esta uma instituição privada, localizada em João Pessoa, entidade filantrópica, reconhecida como utilidade pública através de leis municipal e estadual.
Universo e amostra
O universo foi formado por 61 idosos com idades entre 60 e 104 anos, abrigados há mais de três meses em instituição privada, do tipo casa de repouso. O processo de amostragem que foi utilizado para a alocação da amostra foi o não probabilístico, por não haver sorteio. A amostra foi composta por 49,8% do universo, ou seja, formado por 29 idosos com idades entre 60 a 87 anos, de ambos os sexos, sendo 15 mulheres e 14 homens.
Critérios de inclusão e exclusão
Os critérios de inclusão para participação no estudo foram: a faixa etária superior a 60 anos, que segundo a Constituição Brasileira caracteriza o cidadão idoso (Brasil, 2005); e estar abrigado em uma instituição de idosos selecionada para a realização da pesquisa por pelo menos três meses antes do início da pesquisa. Foram considerados inelegíveis para compor a amostra os idosos com elevado grau de debilidade e enfermidades severas que impossibilitaram a participação na coleta de dados.
Variáveis incluídas na coleta dos dados:
As variáveis analisadas foram: sexo, atividades da vida diárias e atividades instrumentais da vida diária. Os instrumentos aplicados foram a Escala de Atividades da Vida Diária de Katz publicada por Borges, Moreira (2009) e a Escala de Atividades Instrumentais da Vida Diária de Lawton (Borges, Moreira, 2009).
Procedimentos para a coleta de dados
Inicialmente foi realizado um contato com o Departamento de Educação Física do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, onde foi esclarecido sobre o interesse em desenvolver o estudo com fins de trabalho de conclusão de curso. Após a autorização da Chefia Departamental para a realização da pesquisa, foi realizado um contato com a direção da instituição de repouso de idosos, onde foram explicados os objetivos da pesquisa para o dirigente responsável pela mesma. Posteriormente, a autorização para a realização da coleta dos dados, houve um contato com os abrigados sendo esclarecidos os procedimentos e objetivos da pesquisa e solicitada à autorização por escrito do termo de Consentimento Livre e Esclarecido por uma pessoa da família e ou responsável pelo participante da pesquisa. Na sequência, foi executada a coleta dos dados com a aplicação das escalas de Avaliação da Vida Diária e Avaliação Instrumental da Vida Diária estruturada e validada com aqueles que se disponibilizaram em participar e que se enquadravam nos critérios de inclusão/exclusão.
Neste momento, foram coletados individualmente todos os dados, pelos pesquisadores, necessários para a formação do presente trabalho, buscando entender as necessidades e dificuldades destes indivíduos, para propor o melhor método de desenvolvimento de atividades que auxiliem seu progresso e avanço no desempenho das atividades diárias, com consequente melhoria na qualidade de vida.
Análise dos dados
Os dados foram tabulados em planilha eletrônica e o método de análise foi o descritivo por meio da análise de distribuição de frequências. Foi utilizado para suporte de tabulação de dados e tratamento analítico o software SPSS, versão 20.0 for Windows®.
Resultados e discussão
Na classificação das Atividades Básicas da Vida Diária, 75,9% dos idosos tem independência total, ou seja, executam as atividades de autocuidado com independência completa, para todas as atividades da escala de Katz; 10,3% apresentam um nível de dependência total. Segundo Spirduso (2005), cerca de 25% dos idosos apresentam estado de dependência para realizar algumas tarefas cotidianas.
Figura 1 - Classificação das Atividades Básicas da Vida Diária em idosos.
Quando analisado os níveis de autonomia nas AVD´s evidenciou-se a seguinte distribuição de frequência: alimentação (100,0%), transferência (90,0%), continência (89,7%), vestuário (86,2%), higiene pessoal (82,8%) e banho (79,3%). A manutenção da capacidade funcional dos idosos, dentro da individualidade e especificidade de cada situação, constitui uma das funções mais relevantes dos profissionais de saúde, familiares e cuidadores.
A Figura 2 que representa as AIVD`s observa-se que 62,1% possuem dependência total e 37,9% dependência parcial, tendo o sexo feminino apresentado mais dependência total (80,0%). A prevalência encontrada no presente estudo é superior aos 28,8% de incapacidade funcional nas atividades instrumentais publicadas por Del Duca, Silva, Hallal (2009) em 598 indivíduos com idade superior a 60 anos residentes na cidade de Pelotas; e inferior aos 72,6% de incapacidades nas atividades instrumentais publicadas no estudo de Costa, Nakatani, Bachion (2006) que incluiu 95 idosos em Goiânia.
Figura 2 - Classificação das Atividades Instrumentais da Vida Diária em idosos.
Quando analisado os melhores índices de AIVD´s, constatou-se a seguinte distribuição de frequência: uso de telefone (52,0%), compras (41,4%), viagens (38,0%), administração do dinheiro (31,0%), medicações (27,6%), preparo de refeições (20,7%) e trabalho doméstico (6,9%).
Conclusão
Um elevado contingente de idosos apresentaram uma percepção da capacidade funcional e autonomia que sinaliza para uma independência total nas AVD´s, tendo sido observado um baixo grau de debilidade e dependência total nessas atividades. Fato contrário foi observado nos níveis de AIVD´s que expressaram uma elevada prevalência de idosos com dependência total ou parcial.
Por fim, recomenda-se novos estudos acerca da área da saúde do idoso e que medidas sejam implementadas no sentido da inserção de novas políticas de promoção a um estilo de vida saudável em casas de repouso, já que com as evidências aqui discutidas entende-se ser imprescindível que os idosos sejam estimulados a prática de atividades físicas, sendo estas adequadas para a capacidade funcional e grau de independência e autonomia de cada um desses indivíduos.
Referências
Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Estatuto do Idoso. 3. Ed. Brasília; 2005.
Borges MRD, Moreira AK. Influências da prática de atividades físicas na terceira idade: estudo comparativo dos níveis de autonomia para o desempenho nas AVD´s e AIVD´s entre idosos ativos fisicamente e idosos sedentários. Motriz. 2009;15(3): 562-573.
Costa EC, Nakatani AYK, Bachion MM. Capacidade de idosos da comunidade para desenvolver Atividades de Vida Diária e Atividades Instrumentais de Vida Diária. Acta Paulista de enfermagem. 2006;19(1):43-48.
Del Duca GF, Silva MC, Hallal PC. Revista de Saúde Pública. 2009;43(5):796-805.
Jacob Filho W. Atividade física e envelhecimento saudável. XI Congresso Ciências do Desporto e Educação Física dos países de língua portuguesa. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. 2006; 20(5):73-77.
Katz (1963). In: Borges MRD, Moreira AK. Influências da prática de atividades físicas na terceira idade: estudo comparativo dos níveis de autonomia para o desempenho nas AVD´s e AIVD´s entre idosos ativos fisicamente e idosos sedentários. Motriz. 2009;15(3):562-573.
Lawton (1969). In: Borges MRD, Moreira AK. Influências da prática de atividades físicas na terceira idade: estudo comparativo dos níveis de autonomia para o desempenho nas AVD´s e AIVD´s entre idosos ativos fisicamente e idosos sedentários. Motriz, 2009;15(3):562-573.
Okuma SS. O Idoso e a atividade física. Campinas: Papirus;1998.
Spirduso WW. Dimensões Físicas do envelhecimento. Barueri: Manole; 2005.
Thomas RJ, Nelson J.K, Silverman SJ. Métodos de pesquisa em atividade física. 5. Ed. Porto Alegre: Artmed; 2012.